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Funcionários Infelizes Não Criam Grandes Empresas
A maioria dos nossos intelectuais ainda acredita que o mundo é controlado por “empresários”, pelos “donos do poder”, por uma “classe dominante” preocupada exclusivamente em maximizar lucros e com seus próprios interesses.
Este talvez seja o maior problema do administrador brasileiro.
Nosso intelectuais e nossos jornalistas associam administradores como sendo parte desta “classe dominante que precisa ser eliminada”, junto com os empresários como reza o marxismo.
Infelizmente Marx nunca conversou com um único administrador na época.
Apesar de ser sobrinho de Lion Philips, o fundador da Philips.
Mas hoje, 150 anos depois, é um insulto à inteligência, aos novos estudantes que aprendem marxismo nas escolas, e à de todos nós administradores formados deste país desconhecer a revolução bem sucedida que se concretizou no século XX no mundo inteiro. A Administração Socialmente Responsável.
Fruto dessa revolução, iniciada pela Harvard Business School em 1912, administradores profissionais literalmente tomaram o poder das empresas, sem derramamento de sangue, sem guerrilhas e emboscadas, conseguindo a derrota definitiva dos empresários, o grande sonho de Karl Marx.
Hoje nos Estados Unidos os “donos do capital” não administram as suas próprias empresas.
Inclusive o termo Empresário continuadamente usado no Brasil é justamente este dono do capital que também administra a sua própria empresa.
Enquanto marxistas querem destruir o empresário e o capital, nós Administradores Socialmente Responsáveis sem alarde fomos tomando o poder destes empresários, pulverizando seu capital, criando Fundos de Pensão de Trabalhadores que iam comprando lentamente as ações dos empresários, e dezenas de outras medidas não revolucionárias nos termos marxistas.
Pelo contrário, criamos Fundações Filantrópicas para os herdeiros ricos destes empresários, dando um novo significado para a vida deles.
Hoje nem temos mais capitalistas na definição de Karl Marx, o que temos são milhares e milhares de acionistas, a maioria minoritários, que não têm poder de mando nas suas empresas.
Pequenos acionistas não podem pedir ao presidente da empresa para contratar um filho ou parente, pois sequer será recebido.
Pequeno acionista não pode pedir para o Departamento de RH contratar sua amante ou moça bonita, para então abusar sexualmente como até hoje acreditam tantos intelectuais marxistas.
Fica bem claro para mim, que é o marxismo brasileiro que impede o crescimento do movimento da Administração Socialmente Responsável, e quero deixar bem claro que não sou alguém de direita atacando Karl Marx, pelo contrário.
Sou alguém de esquerda que quer implantar uma esquerda eficiente, responsável e social, que atenda os interesses dos Stakeholders da empresa, e não somente dos Stockholders visão da direita, dos Trabalhadores de Chão de Fábrica, visão da esquerda, ou do Estado, visão dos nacional-socialistas do Brasil.
Voltei de Harvard determinado para implantar esta nova forma de pensar, uma das razões pela qual logo procurei a Revista Exame, e me tornei parte do conselho editorial.
Mas minha maior dificuldade foi convencer os jornalistas petistas, o mais conhecido hoje sendo Rui Falcão, por 10 anos Secretário de Redação, que não queria ouvir nada que melhorasse o capitalismo, porque isto impediria a vinda do nacional-socialismo, a ideologia que reina hoje no Brasil, desde Getúlio Vargas.
Slavoj Zizek que parece ter lido praticamente todos os livros do mundo, não leu Peter Drucker.
A verdade é que ao longo do século XX, os empresários do mundo inteiro foram sendo lentamente substituídos por um grupo de revolucionários que, sem derramamento de sangue, tomaram o poder das empresas.
Refiro-me aos novos protagonistas da história, os administradores profissionais, pessoas especialmente treinadas para conciliar os interesses conflitantes entre clientes, fornecedores, acionistas, trabalhadores, ecologistas, ONGs e governo.
O acionista majoritário, o famoso “empresário”, deixou de ser o todo-poderoso, aquele gestor que administrava sua empresa em causa própria e de sua família, à custa dos demais, o chamado Stockholder.
O novo tipo de empresa que administradores criaram é a empresa de “capital aberto” com milhares de acionistas que oferecem sua poupança como “capital social” para a sociedade.
Essas empresas, listadas em bolsa, não têm dono, no sentido típico da palavra. O administrador socialmente responsável não tem o Stockholder como meta, mas sim o Stakeholder, todos os que têm interesse na perpetuação sustentável da empresa. Trabalhador, cliente, fornecedor e o acionista, nesta ordem.
Esses revolucionários humanizaram as empresas, tornando-as socialmente responsáveis, valorizaram fornecedores, clientes e trabalhadores.
O objetivo da empresa passou a ser servir à sociedade em geral, e não servir aos interesses de uma única família ou do Estado, a todo custo.
Administradores não são de direita nem de esquerda, não defendem exclusivamente capitalistas ou somente os trabalhadores em detrimento dos demais Stakeholders.
A preocupação é sempre defender o todo. Ao contrário do que acreditam acadêmicos e os intelectuais, administradores não maximizam lucros.
Eles habilmente deixam os acionistas “satisfeitos”, com a famosa fórmula de “dividendos mínimos”, sistemáticos e crescentes, que aprendemos no primeiro ano da faculdade de administração.
Clientes, governo, trabalhadores, acionistas e fornecedores, porém, têm interesses conflitantes, que precisam ser adequadamente resolvidos por um mediador, que é a função política e moderna do administrador. O administrador como político.
Quando um desses grupos domina os demais, cessam a cooperação e o crescimento da empresa.
Foi o que ocorreu com as estatais dominadas pelo Estado, como a Varig dominada pelos funcionários, e com muitas empresas familiares comandadas pelo grupo majoritário.
Aí, uma das partes da equação sempre controlará a empresa pensando em seu próprio interesse, em detrimento das demais.
A função do administrador é justamente manter esses grupos heterogêneos nos seus devidos lugares.
Um administrador de empresas é antes de tudo um hábil político, um líder, um mediador e conciliador de conflitos.
Ele sabe conciliar como ninguém as forças difusas e conflitantes que garantem o sucesso de uma empresa. São políticos que entendem de administração, ao contrário do que temos por aí.
Em vez de torcer para que o próximo Congresso tenha deputados que possam eventualmente entender de administração, vamos eleger administradores que já entendam de política.