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Os Adeptos da Administração Socialmente Responsável
Em 500 anos de história nunca tivemos equipes de administradores elaborando programas de governo, muito menos os implantando.
Quando elogiei uma declaração de Dilma Rousseff, em VEJA de 21 de março de 2007, usei a expressão “administradores de esquerda”, que intrigou muita gente.
Principalmente aqueles que pensam que só existem administradores de direita.
Achar que só existem administradores de direita no mundo é um preconceito e um insulto aos dois milhões de administradores deste país.
Para começar, administração é uma ciência neutra, como a engenharia e a medicina. O que não impede que haja administradores de direita, de esquerda e de centro-esquerda, como de fato acontece.
Em segundo lugar, há tempos existe no Brasil a carreira de administração pública, que de direita não tem nada.
De fato, administradores de direita são encontrados em empresas controladas por empresários de direita. Mas a maioria dos administradores é de centro e centro-esquerda, embora nem todos se definam assim.
São aqueles que administram empresas “sem dono”, são aqueles que administram empresas de capital aberto e democrático, são os administradores socialmente responsáveis, que estão crescendo em número e poder.
Foram eles que lutaram pela pulverização do capital, enfraquecendo assim o controlador capitalista, que foi a primeira ação da esquerda de fato vitoriosa.
Foram os primeiros a criar fundos de aposentadoria para trabalhadores, que hoje controlam 40% do capital americano. Foram os primeiros a criar planos de saúde aos trabalhadores. Foram os precursores do movimento de responsabilidade social das empresas brasileiras.
No 3° Congresso Internacional de Responsabilidade Social de 1998, havia somente três administradores representando o Brasil.
Este que escreve, o administrador Oded Grajew, criador do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, e Henrique Meirelles, mais um desses administradores (do Coppead, Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Um dos grandes erros da Revolução Socialista de 1917 foi que ela eliminou, destituiu e expulsou todos os administradores da União Soviética.
Dizimaram o segundo escalão da nação. Machiavel, lembre-se, recomendava eliminar somente o primeiro escalão.
“Em meados de abril de 1918 os administradores haviam sido totalmente eliminados“, orgulha-se um historiador da revolução de 1917, já que eles eram considerados lacaios do capitalismo.
Acabaram também com todos os gerentes, supervisores, chefes de seção, bem como contadores e auditores, considerados “espiões” do capitalismo. O restante fugiu a tempo.
Os socialistas e os marxistas incentivaram a autogestão, porque segundo a doutrina os administradores não acrescentam valor algum à sociedade.
Os trabalhadores autogestores imediatamente destruíram os sistemas de avaliação de desempenho, e a produção na União Soviética despencou logo em seguida.
Foi esse erro que deu início à desorganização, ineficiência e corrupção que ainda persiste na Rússia.
O erro foi esquecer que o socialismo precisa ser tão bem administrado quanto o capitalismo.
Algo que muitos intelectuais brasileiros também esqueceram. Muitos nem sequer conhecem um único administrador.
Nos Estados Unidos, a esquerda americana encabeçada por Harvard fazia justamente o contrário.
Criava uma escola de administração em 1908 para formar e apoiar o “administrador socialmente responsável”.
Incentivaram e deram prestígio àqueles que fariam oposição ao empresariado capitalista da época.
Infelizmente, o Brasil seguiu a linha da esquerda soviética e não a da esquerda americana.
Nossos intelectuais, em vez de apoiar, demonizam o administrador nos seus textos, na mídia, nas novelas, retratando-os como fordistas, desumanos e “lacaios do capitalismo“.
Movimentos sociais que alijam administradores do seu seio estão fadados ao fracasso.
Por incrível que pareça, nunca tivemos equipes de administradores elaborando programas de governo, em 500 anos de história.
A esquerda raramente coloca administradores de esquerda e centro-esquerda para ministros, para administrar este país.
Algo que a esquerda brasileira, a mais moderna pelo menos, deveria seriamente repensar.
Enfrentamos a oposição da direita, que não quer administradores profissionais e sim seus filhos tocando o capital social das suas empresas, e temos, por incrível que pareça, a esquerda brasileira que também não quer um país transparente e eficiente.
Esta é a principal razão pela qual a Administração não é uma profissão devidamente valorizada, apesar de ser a profissão mais procurada pela nova geração.
Escrevi este livro pensando em vocês, fornecendo argumentos para vocês conseguirem o que eu infelizmente não consegui.
“Administradores de Esquerda”, acabou sendo meu último artigo na Veja.
Nem permitiram despedir-me dos meus queridos leitores. A oposição da direita e da esquerda é dura e violenta.
Preparem-se devidamente, mas o Brasil depende de vocês para mudar este preconceito idiota por parte de ambos.