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Fernando Guarnieri

Com a popularização dos sites de relacionamento, o conceito de “redes sociais” ganhou a praça.  É como elas houvessem surgido com a web 2.0. Muito se escreveu sobre as maravilhas que a colaboração em rede pode fazer, e cada vez mais pessoas querem saber o que são, como surgem e como revelar o seu “poder oculto”. Mas as redes sociais não surgiram com a web 2.0; elas existiam nas cavernas de Lescaux, assim como existem no Twitter.

O que é uma “rede social”? Uma rede social consiste em um conjunto finito de atores/nós e nas relações/vínculos entre estes atores. Em Lescaux , um grupo finito de “homens da caverna” estabelecia relações de colaboração para caçar; no Twitter, homens e mulheres de outra caverna se relacionam trocando informações.

A Análise de Redes Sociais (ARS) é uma metodologia utilizada desde a década de 70 por sociólogos, antropólogos, economistas e cientistas de diversas áreas do conhecimento. Estes cientistas acreditam que a estrutura de um grupo social ajuda a explicar o comportamento deste grupo. A ARS associa a estrutura do grupo aos seus padrões de relacionamento e propõe uma série de conceitos e métricas para analisar estes padrões.

Uma rede pode ser densa, quando todos os atores relacionam-se uns com os outros. Ela pode, por outro lado, depender de um único ator, assumindo a forma de uma “estrela”, com vários atores vinculados exclusivamente a este ator central.

Alguns atores podem possuir um número muito maior de vínculos que outros ou podem ocupar posições de intermediação, o que lhes permite controlar o fluxo na rede. Estes atores são considerados centrais. Uma rede também pode apresentar diferentes padrões de relacionamento entre grupos de atores, o que indica a existência de diferentes papéis sociais.

As propriedades das redes são mensuráveis graças aos avanços na teoria dos grafos e são passíveis de visualização por meio de sociogramas. Métricas e sociogramas revelam características de grupos sociais que, normalmente, estão escondidas. Essas características podem nos ajudar a entender melhor o funcionamento dos grupos, permitindo identificar os fatores que bloqueiam ou facilitam seu desenvolvimento.

Mas o que isto tem a ver com a Internet? A web 2.0 funciona como um suporte onde os padrões de relacionamento entre os atores ficam registrados, assim como moldes de traços de fósseis registram pegadas e caminhos. Recentemente, alguns cientistas resolveram analisar esses padrões, buscando entender como a Internet evoluiu e evolui, como é a topologia desta rede e como é possível navegar rapidamente e com precisão de um ponto a outro dentro dela. O que os cientistas descobriram é que as redes online têm algumas propriedades que também são encontradas nas redes “reais”: elas são scale-free, isto é, uma proporção pequena de sites tem um grande número de vínculos e este número cai exponencialmente conforme a proporção de sites aumenta; nas redes online também ocorre o fenômeno do small world, onde a maior parte dos nós não está conectada entre si e, mesmo assim, qualquer nó é alcançado por qualquer outro por meio de poucos passos.

Hoje físicos, sociólogos e cientistas de outras áreas colaboram no estudo das redes sociais online. Tal processo ajuda a formar conceitos e técnicas que, além de dar mais qualidade à própria web, permitirão conhecermos com mais profundidade a sociedade em que vivemos e desenvolvermos novas formas de colaboração para melhorá-la.

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