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André Avorio

Em 2003, Tim O’Reilly, fundador da O’Reilly Media, convidou executivos, pensadores, empreendedores e profissionais de tecnologia para acampar durante um fim de semana no escritório da companhia, nos Estados Unidos. Nascia o Foo Camp, um evento exclusivo fechado para convidados. A proposta era criar um espaço informal para que essas pessoas pudessem compartilhar idéias, demonstrar os projetos em que estavam trabalhando e abordar juntas problemas relevantes ao mercado. Área para barracas, comida, banheiro, eletricidade, conexão Wi-Fi e um wiki seriam disponibilizados. Ao contrário das várias conferências e encontros organizados pela O’Reilly, este não tinha programação previamente fechada; a idéia era que ela fosse construída na hora pelos próprios participantes.

O evento foi um sucesso, e a O’Reilly continua a organizá-los anualmente até hoje. No entanto, por ser fechado a convidados, sua abrangência fica restrita a poucas pessoas. Em 2005, depois de não ter sido convidado para o Foo Camp daquele ano, Tantek Çelik se reuniu com Chris Messina, Andy Smith e Ryan King e lançou a idéia: por que não termos um evento nos mesmos moldes, mas aberto a todos aqueles que tiverem interesse em participar? Neste momento nasceu o BarCamp. Está aí também explicada a origem do nome – em contraposição a Foo Camp.

O primeiro evento foi então organizado em menos de uma semana, e reuniu mais de 200 pessoas na Califórnia. Tecnologias de código aberto, colaboração, dados públicos e desenvolvimento web estavam entre os tópicos abordados. Sua repercussão foi imensa, e desde então outros encontros similares aconteceram em mais de 350 cidades na América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia, Oceania e Oriente Médio. No Brasil, o primeiro BarCamp aconteceu em setembro de 2006, em Florianópolis, e reuniu mais ou menos 100 pessoas. Outras edições foram depois organizadas em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.

A disseminação do BarCamp pelo mundo catalisou a construção de uma comunidade global de empreendedores, programadores, ativistas, nerds e afins. É um potpourri de gente com idéias transformadoras que se articulam por meio de um wiki, onde estão também definidos os valores e a metodologia por trás do BarCamp. É lá também onde são divulgados os próximos encontros da comunidade.

Os BarCamps são gratuitos e abertos a todos os interessados. É claro, dentro das limitações de espaço físico de cada local onde acontecem os encontros. Eles são organizados por voluntários, que se desdobram para manter os custos próximo de zero. Quando a conta não fecha, é comum empresas locais patrocinarem o evento estampando suas logomarcas em camisetas e painéis.

A metodologia do BarCamp pode ser descrita como uma simplificação da Open Space Technology (Harrison Owen, 1985): um mural é colocado num local bem visível, e nele são desenhadas colunas, representando as salas, e linhas, representando os horários disponíveis. A proposta é que a programação do evento seja construída coletivamente, portanto todos são convidados a usar o mural para agendar tópicos para debate, demonstrações de projetos, ou palestras sobre assuntos com os quais têm intimidade. Essa dinâmica visa transformar espectadores em protagonistas, abrindo espaço para que os participantes proponham atividades que reflitam seus interesses, tornando-os co-responsáveis pelo sucesso do evento.

A priori isso pode parecer um caos, mas uma vez que todos se apresentam (em geral usando três palavras) e identificam mais ou menos os tópicos em que estão interessados, fica fácil usar o mural para articular sessões e conhecer pessoas. O BarCamp existe a partir do desejo de muita gente de compartilhar e aprender num ambiente horizontal, e ele acaba também servindo de plataforma para muitos sincronismos – desde oportunidades de trabalho, de encontrar parceiros de negócios, e até grandes amizades.

Costumo dizer que eles funcionam melhor que os corredores de conferências tradicionais, onde os encontros mais frutíferos geralmente acontecem. Além do mais, num momento em que conferências de internet custam tão caro, BarCamp pode ser uma boa para catalisar muitas das trocas que já acontecem online entre muita gente, e quem sabe continuar contribuindo com o amadurecimento da rede.

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