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Alex Primo

“A interatividade é o diferencial do jornalismo online”. Vamos ser sinceros: frases como essa acabam por não dizer nada. O termo “interatividade” — que emerge com a indústria informática — ao mostrar-se tão amplo, torna-se vago. Para seguir no exemplo de um jornal online, será que tanto aquelas páginas sem qualquer abertura para comentários quanto os sites de webjornalismo participativo são igualmente interativos? E mais, como podemos pensar a interação no ambiente digital?

Não podemos negar que veículos analógicos como jornais, revistas e emissoras de TV e rádio não eram antes interativos. Um leitor que liga para a redação sugerindo um ponto de pauta, um ouvinte que conversa no ar com o locutor de seu programa favorito, ou mesmo a resposta a uma pesquisa de opinião são, a rigor, formas de interação. O que precisamos é diferenciar os tipos de interação, seus contextos, intensidades e efeitos para respeitar a complexidade do fenômeno interacional e dar sentido às diferentes situações de comunicação.

Sempre achei que “interação” é um dos conceitos de base da comunicação mediada por computador. Mas, em meio à confusão de tantos slogans e discursos sobre as maravilhas dos produtos interativos, decidi buscar uma forma de distinguir os processos de interação na internet.

Para simplificar, e evitar uma imensa lista com dezenas de tipos e sub-tipos, pude observar dois grandes grupos de processos interativos mediados por computador. O primeiro, que chamei de interação reativa, caracteriza-se pelas trocas mais automatizadas, processos de simples ação e reação. Podemos considerar que um intercâmbio entre dois bancos de dados é exemplos de interação reativa. Ora, as trocas encontram-se previstas. Mas existem intercâmbios nos quais pouco ou nada está definido a priori. Um bate-papo entre amigos em uma sala de bate-papo, uma negociação comercial via Skype e até mesmo uma discussão via mensagens de texto por celular emergem no momento, são criadas pelos próprios interagentes durante o encontro.

Mesmo que os negociadores do exemplo anterior tenham objetivos a cumprir, apenas durante a reunião online que as decisões serão confirmadas. É muito diferente, portanto, da interação com um software, onde as reações do programa precisam ser determinadas a priori para que possam ser desempenhadas conforme o projeto. O segundo tipo, baseado na construção cooperativa da relação, cuja evolução repercute de nos eventos futuros, eu chamo de interação mútua.

Claro, essa é apenas uma entre tantas tipologias. Mas através dela podemos inclusive compreender a diferença entre os primeiros tempos da Web e o que se convencionou chamar de Web 2.0. No caso do jornalismo online, podemos lembrar que os primeiros sites jornalísticos limitavam-se ao hipertexto. Os internautas podiam já escolher as trilhas que mais lhe interessavam, criando o seu próprio percurso noticioso. Contudo, precisavam escolher entre as alternativas disponíveis a priori.

Ou seja, processos de interação reativa. Com a Web 2.0, e a mudança do foco da publicação para a participação, passou-se a valorizar cada vez mais os espaços para interação mútua: o diálogo, o trabalho cooperativo, a construção coletiva do comum.

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