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Carlos Estigarribia

Comecei a trabalhar com jogos assim que saí da faculdade. Não me via programando banco de dados ou fazendo software de gestão empresarial. Devia existir alguma coisa mais interessante para fazer com o que eu havia aprendido. Na época, não havendo nenhuma empresa de jogos para trabalhar por perto resolvi fundar minha própria, com um colega de faculdade que passava pelo mesmo dilema. Foi a melhor decisão que podia ter tomado.

Trabalhar com jogos eletrônicos é fascinante, é uma área totalmente multidisciplinar, que envolve não só programadores e artistas, mas também roteiristas, agências de marketing, equipe de finanças, testadores (sim, existem pessoas pagas para jogar o dia todo), entre outros.

Ao longo desses quase 15 anos trabalhando na área pude acompanhar as várias “ondas” de jogos que aconteceram e como algo antes restrito a um público masculino e na faixa dos 15-25 anos conseguiu atingir praticamente qualquer pessoa.

Do lado dos jogos voltados para o público “hardcore”, aqueles que jogam o tempo todo, a grande mudança foi na capacidade de processamento dos computadores e consoles, que atualmente proporcionam uma experiência cinematográfica e uma imersão total no jogo.

Com isso houve uma migração de artistas, músicos e roteiristas de cinema e animação para a área de jogos. O orçamento de um jogo desse tipo muitas vezes supera a de uma produção de Hollywood e a receita arrecadada já supera a de cinema (em bilheteria). A indústria dos jogos alimenta outras indústrias, trilhas sonoras de jogos são executadas em salas de concerto, jogos viram filme, comerciais de carro tem sua estética baseada em cenas de jogos. Prestando atenção você repara que os jogos estão em todo lugar.

Mas provavelmente a grande revolução que houve foi a popularização dos jogos para além do público hardcore. Um dos fatores que contribuíram para isso foi o componente online.

Antes dos jogos eletrônicos existirem as pessoas já jogavam (jogos de tabuleiro existem há milênios) e a grande graça é exatamente jogar em grupo. Com os jogos eletrônicos isso não acontecia, era uma experiência individual, homem contra máquina.

No momento em que a internet se popularizou e o custo de conexão caiu houve uma explosão de jogos multiusuário e nesse momento as pessoas passaram a jogar em grupo, e o jogo eletrônico voltou a ser o bom e velho jogo que as pessoas já conheciam, onde elas usam o jogo como uma forma de passar tempo e se comunicar. Daí o sucesso dos sites de jogos online em que você joga e conversa através de um chat, exatamente como se estivesse em casa jogando um jogo de tabuleiro com os amigos.

No mercado brasileiro, é gratificante ver a evolução que aconteceu nos últimos 15 anos. Temos dezenas de empresas de jogos em praticamente todos os estados do País e várias multinacionais abrindo escritórios aqui, ou comprando estúdios já existentes. O Brasil entrou no “mapa dos games”, e hoje é possível fazer carreira nessa indústria sem precisar sair do país.

E a melhor parte de tudo isso é hoje já posso dizer que trabalho com jogos sem causar espanto nem precisar explicar que não tem nada a ver com jogo do bicho ou contravenção 🙂

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