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Wagner Fontoura

Não é porque o Facebook matou o Orkut (o Facebook ou o Google?! Ou o Twitter? Ixi!) que se erradicou da face da Terra o bom e velho conhecido miguxo, aquele serzinho meio-gente-como-a gente, só que sem noção.

Mas, afinal, para entender a Internet segue preciso que se entenda esta cria dos tempos modernos (pero no mucho) que deu origem ao miguxês (e a tantas otras cositas más), com as suas variações, atravessando bravamente as gerações x, y e z, sem perspectiva de extinção no curto prazo.

A associação do termo miguxo à Xuxa (Rainha dos Baixinhos) não é mera coincidência. O programa Xou da Xuxa, que na década de 80 do século passado substituiu, na Rede Globo de televisão, o Balão Mágico e catapultou a apresentadora Maria da Graça Meneghel à posição de estrela número 1 da emissora com seus frequentes recordes de audiência junto ao público infanto-juvenil pode sim creditar pra si, dentre outras tantas controvérsias, o fato de ter originado em larga escala o maldito socialeto miguxês. Pelo menos no Brasil, considerando-se que há versões de que, em escala mundial, tudo começou mesmo foi com Hitler, na Alemanha, muito antes. Mas vamos nos ater ao nosso Braseo.

Grande parte das gerações que se formaram sob a batuta da Rainha entre o final da década de 80 e a de 90 passadas herdou, dentre outras coisas, uma carga de alienação, competitividade desmedida e a valorização de padrões de beleza fora da realidade brasileira. Além disso, adquiriu uma sexualidade precoce e extremada associada ao rompimento com valores relacionados à família. Herdou ainda mais, e é aí que queremos chegar: herdou o controverso miguxês, caracterizado pela Wikipédia brasileira por:

  • Substituição de s e c por x, simulando a palatização da fala infantil: você, vocês> vuxeh vuxeix;
  • Omissão de diacríticos, ou sua substituição, em alguns casos, pela letra h (acento agudo) ou n/m (til): será, árvore, não> serah, arvore, nawn/naum;
  • Substituição de i por ee, por influência da língua inglesa: gatinha> gateenha;
  • Substituição de o ou e por u e i, em especialmente em sílabas não-tônicas: quero > keru;
  • Substituição do dígrafo qu e da letra c por k, e de u não-silábico por w: quem escreveu > kem ixkrevew.

Para saber exatamente como isso funciona você pode se exercitar numa ferramentinha online denominada caprichosamente de Miguxator (http://www.coisinha.com.br/miguxeitor).

Associar esta geração ao advento do Orkut, que lançou moda entre os brasileiros nessa coisa de Redes Sociais e faleceu recentemente deixando o Facebook com a batuta e a batata quente na mão, é como concluir que 2+2=4. E é por isso que os miguxos são relacionados automática e diretamente ao falecido.

À medida que este grupo foi precedido por novos usuários por conta de terem envelhecido e que novas ferramentas de comunicação social surgiram com o boom desse tipo de rede no Brasil e no mundo, os miguxos encontraram e se apropriaram de novas plataformas. Acredito que em algum momento, você que me lê agora, deve ter ouvido falar na invasão miguxa às suas redes prediletas; lá atrás, à velha blogosfera, mais recentemente ao Twitter, ao Facebook, WhatsApp e por aí vai.

Sempre que esse movimento é percebido, um burburinho de medo e de repúdio pelos usuários mais conservadores em tais redes se faz notar. Em vão. Os miguxos são, principalmente, parte da chamada Geração Y, aquela que já nasceu conectada e que não está nem aí para a sua “velha opinião formada sobre tudo”.

Cá entre nós, derivados deste grupo já formam outras grandes castas na rede. Grupos de blogueiros, tuiteiros, facebuqueiros, whatsappeiros e outros habituados à crítica muitas vezes irresponsável e maniqueísta do comportamento alheio, por exemplo, são, a meu ver, uma das formas fortes de e-volução dessa espécie.

Em todas as plataformas atuais de rede você poderá encontrar outras formas miguxas “evoluídas”. Pense e foque no DNA dessa geração e você verá que sua influência não é pequena nos grupos de formação da maioria delas e, por que não dizer, na nossa sociedade moderna como um todo.

Então se conforme. Se você mesmo não é nem nunca foi um miguxo (#ahvá!), certamente tem na família algum representante do grupo ou está cercado por alguns deles agora mesmo, enquanto lê essas mal traçadas linhas.

Relaxe. Eles são inofensivos (#sqn).

Para mais informações, vale consultar o termo Miguxês na Desciclopédia.

 

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