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Vanessa Ruiz

Tecnicamente, o Twitter pode ser definido como uma “rede social de microblogs baseada em posts (ou “tweets”) de no máximo 140 caracteres”. Antes fosse simples assim determinar a sua utilidade.

Em pouco mais de um ano de boom da rede no mundo, o Twitter já havia servido aos mais diversos propósitos: foi ferramenta primordial para os protestos políticos do povo iraniano sob censura; possibilitou a presidentes, técnicos e jogadores de futebol darem seus próprios “furos de informação”; fez parte da eleição de Barack Obama; serviu de trampolim para ensaios em revistas masculinas e vagas no Big Brother Brasil; aproximou gente de todo o tipo através de uma simples @ (a arroba é o símbolo colocado antes do nome de usuário para fazer com que um tweet seja endereçado a ele, ainda que este mesmo tweet seja público).

Um dos grupos que mais se jogou de cabeça no Twitter foi o dos jornalistas. A rede social se transformou em forma de divulgar o trabalho, mas também de dar vazão a conteúdo que nem sempre é aceito pelo veículo em que o jornalista trabalha. Por conta deste último aspecto, passou a ser o meio mais eficaz de consolidar seu nome como uma marca. Já não é mais preciso ter um grande jornal, emissora, portal, etc por trás para passar credibilidade.

Se o uso do Twitter é gratuito e raramente gera renda, o preço a pagar veio das regras criadas justamente pelas grandes empresas. A maioria ainda libera o uso do Twitter apenas como feed de seu próprio conteúdo e proíbe veementemente os jornalistas de darem o tal do furo pela rede antes de a informação ser publicada via empregador. Foi o caso, por exemplo, do Grupo Folha e da ESPN americana, que adotaram o veto.

Vamos a um caso. Na demissão do técnico Muricy Ramalho do Palmeiras, a primeira confirmação foi dada através do Twitter. Eu estava no Terra, mas o cargo não era de repórter, tampouco na editoria de Esportes. Portanto, nada, nem a autocensura, me impediu de fazê-lo. Logo em seguida, publicamos a notícia no portal.

A autocensura, aliás, é um dos fantasmas que persegue os usuários diante destas novas ferramentas. “Se eu passar a informação pelo Twitter, nosso site (ou rádio) não será mais o primeiro a dar e eu perderei pontos com a chefia”. Este tipo de pensamento existe e, no mais das vezes, só é aposentado quando a mudança de postura vem dos cargos de cima.

Na rádio CBN, por exemplo, tudo começou com o âncora Milton Jung usando o Twitter como mais um meio de se comunicar com os ouvintes. A rádio como um todo tardou a abraçar a novidade, mas o fez e segue preocupada com a convergência. Antes da criação de perfis dos programas da casa, por exemplo, um dos temas que mais se discutia na redação era a questão da plataforma, que não era própria. Traduzindo: se o Twitter afundasse, tudo o que construímos em cima dele morreria junto. O risco existe, de fato. No entanto, se provou menos importante do que a força que o site passou a ter.

A “rendição” dos veículos de mídia ao Twitter é progressiva. É a boa e velha história do “inimigo” (não que o Twitter o seja, mas muitos o vêem assim): junte-se a ele se não pode vencê-lo. Foi assim que veículos como Estadão e Terra tornaram-se alguns dos primeiros a contratarem seus editores de social media. E é assim também que, mais e mais, empresas veem criando equipes para responder às reclamações de clientes insatisfeitos que se replicam pela rede.

Vamos, então, a uma outra questão: o que mais atrai seguidores (os “followers”) para o seu microblog no Twitter? Nestes tempos, vivi três experiências emblemáticas.

Em cerca de 10 minutos depois de ter dado a demissão de Muricy, abri minha caixa de e-mail e eram 146 os e-mails de novos seguidores. A minha penetração era razoável, mas não grande como a do William Bonner ou de algum ator da TV Globo: eu tinha cerca de 3800 seguidores antes daquele tweet. O número cresceu ainda mais com o correr do dia. Deste e de outros exemplos menores podemos tirar que uma informação exclusiva apurada usando os princípios jornalísticos atrai e muito.

“O que só você viu” é outro daqueles grupos de informação que chama a atenção. E aí conto mais um causo: o da vaca da Cow Parade que boiou na enchente em frente ao Palestra Itália. Foram centenas de retweets (ou RTs, forma de encaminhar para seus seguidores um tweet que você acha que vale a pena) de uma única foto tirada de celular e em que mal se podia ver a tal da vaca, mas que gerou identificação e atiçou o interesse de muita gente.

Por fim, a terceira categoria que já se provou mais do que eficaz caso seu único interesse seja aumentar a rede de seguidores é o “meta-tweet”, ou seja, o tweet que fala sobre Twitter ou redes sociais em geral. Em dois dias, um único tweet rendeu cerca de mil acessos a um post do meu blog — que não tem um fluxo constante de postagens e, por isso, tem pouco público cativo — cujo título era O que é o quê: jornalismo e crowdsourcing no #apagao. (Ah, sim! O sinal # é usado antes de alguma palavra que indique o espírito ou categorize seu tweet e serve para facilitar as buscas; cria-se, assim, as hashtags.)

Estes são apenas alguns exemplos de como usar a rede. O mais fascinante é justamente o fato de uma rede como o Twitter poder ser usada das mais variadas maneiras. Há quem gere renda com ele, conseguindo patrocínio para seus tweets. Há quem continue usando, principalmente celebridades, apenas para responder àquela que era a questão primordial sugerida pelos criadores: “O que você está fazendo?”. A pergunta, aliás, mudou para “O que está acontecendo?”. Existem os perfis falsos engraçados, as empresas que entram na rede para suavizar a ira de consumidores mal atendidos, etc.

O legal do Twitter não é perder tempo tentando descobrir ou até mesmo querendo criar regras universais. O que torna a experiência rica é encontrar o seu caminho, produzindo conteúdo que dará o retorno que você espera, seja seu objetivo se divertir, capitalizar, etc, ou simplesmente ter uma timeline (a tela em que caem os tweets das pessoas que você segue, em ordem cronológica) com perfis que você ache interessante acompanhar.

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