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Cheguei ao hospital na hora certa. Veio em minha mente que recentemente havia ido mergulhar. Fiz praticamente um bate-volta para um mergulho em Ilhabela para recarregar minhas baterias. Mergulhar era minha principal estratégia contra estresse. Um único mergulho de cerca de quarenta minutos era suficiente para aliviar o estresse acumulado durante meses. Sempre voltava “zerada” para o trabalho. Mas desta vez, foi diferente, não voltei zerada, ao contrário parecia ter voltado ainda mais exausta.

Enfrentei situações desagradáveis antes do mergulho em si. No trajeto entre o píer e o ponto de mergulho, alguma coisa não estava certa, a água do mar se acumulava dentro do bote, o deixando pesado. Inúmeras paradas foram necessárias para a retirada da água. A viagem teve seu tempo duplicado, aumentando a ansiedade pré-mergulho. A pulseira do meu profundimetro arrebentou. Sem ele, seria meu primeiro mergulho “às escuras” não teria ideia de profundidade, temperatura da água, tempo de mergulho e velocidade de subida. Ainda neste dia, a outra mergulhadora ignorou os avisos de correnteza forte e se soltou do bote enquanto o “dive master” ainda se equipava. A espera por cerca de quarenta minutos presa a boia até que eles voltassem ao ponto do mergulho mais a demora do trajeto, trouxe uma fadiga fora do comum. Tive receio de completar a descida, mas perseverei, afinal, havia viajado só para isso e esperava que o mergulho realmente melhorasse minha condição. O passeio não foi tão agradável como das outras vezes, percebi que estava respirando com certa dificuldade e ao chegar à base, constatei que meu consumo de ar estava acima de minha média. Consumi mais ar comprimido que das outras vezes, como se estivesse ansiosa ou respirando aceleradamente.

Fatos desconexos que agora, começaram fazer sentido. Estava com baixa hemoglobina, o que explica o cansaço e a dificuldade exacerbada para respirar. No fundo do mar, com a alteração da pressão atmosférica esses sintomas foram potencializados. Dias após o mergulho, cheguei a passar mal a caminho do trabalho. O cansaço e as dores nas pernas quase me fizeram pedir ajuda entre a ligação subterrânea das estações de metrô de meu trajeto. Só não parei, porque fui praticamente empurrada pela multidão de usuários até a próxima estação.

Três diagnósticos poderiam justificar a baixa hemoglobina: baixa ingestão de ferro, a não absorção do ferro, ou a perda de sangue através de hemorragia ou melena  Sem causa aparente e com o nível de hemoglobina caindo a cada hemograma, os plantonistas começaram a falar em transfusão de sangue. Contudo, antes era recomendável descobrir a causa, para impedir que a transfusão mascarasse a real causa da anemia. Mais alguns exames foram solicitados às pressas, radiografia, eco cardiograma e endoscopia.