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Expectativa humana
Passados seis dias de internação, algumas transfusões de sangue, os hematomas tomavam conta de meus braços e mãos devido a muitas veias estouradas. Com hemoglobina de 11 g/dL pude comemorar minha alta temporária. Havia duas possibilidades de diagnóstico, a mais provável que se tratasse de GIST. O tratamento poderia ser através de medicação ou de cirurgia ou ainda de ambas.
Fui liberada para aguardar em casa, o resultado da ressonância magnética e teria ao menos um fim de semana longe de agulhas e medicações. A qualquer alteração no nível de cansaço, precisaria voltar imediatamente ao hospital. Caso contrário, a volta seria apenas para discussão e planejamento do tratamento na segunda feira à tarde. Pensei até que seria possível retornar ao trabalho na própria segunda feira. Mas só consegui ficar algumas horas com a companhia das minhas sobrinhas lindas.
Curto prazo
Ao pesquisar na internet, encontrei alguns estudos estrangeiros sobre o tumor, mas nada parecido com o meu caso. Homens de 50 anos ou mais, tumores de 10 a 15 centímetros. Nada parecia fazer sentido ou se aplicar a mim. Então, decidi não pesquisar mais. De nada adiantaria saber como a doença agia nestes pacientes, o meu caso parecia ser diferente, logo meu desfecho também poderia ser. Não era fácil, mas decidi viver o “só por hoje”. De nada adiantaria me preocupar com o amanhã, pensava, pois nem sabia se estaria viva ou ainda com a doença.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Mateus 6:34)
Em casa, fiquei bem no primeiro dia, senti um pouco de cansaço, mas nada comparado quando dei entrada ao hospital. Perguntava-me: “Qual parâmetro de cansaço deveria ser considerado para voltar para o hospital?”. Não precisei pensar muito, no segundo dia, ao tomar banho, não consegui terminar de lavar meus cabelos, senti muita fraqueza e o cansaço demasiado me avisou que era hora de voltar.
Ao dar entrada no pronto-socorro, o médico plantonista, um cirurgião gástrico, anunciou o resultado da ressonância e o tratamento. De uma maneira clara e objetiva informou que estava com GIST e que o tratamento seria cirúrgico. No dia seguinte, meu médico particular, um professor doutor especializado em oncologia e conhecido por muitos anos de minha família, em tom muito preocupado explicou a gravidade da baixa hemoglobina e quais implicações neurológicas e cardíacas eu poderia ter tido, caso tivesse um desmaio a caminho do hospital. Logo mais, ele me apresentou seu parceiro cirúrgico, outro professor doutor, chefe do departamento de gastrologia de outro renomado hospital. A cirurgia, segundo eles, seria feita a quatro mãos.
Não poderia estar em melhores mãos. Mas sabia que outro par de mãos também participaria da cirurgia. O Médico dos médicos não perderia a oportunidade de manifestar a sua glória.
O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; (Isaías 61:1)
Para Jesus, é simples assim. Ele pergunta o que queremos que Ele faça, e Ele ordena a cura.
Dizendo: Que queres que te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja. E Jesus lhe disse: Vê; a tua fé te salvou. (Lucas 18:41-42)
Ações temporárias
Durante a semana seguinte, vivenciei algumas situações inusitadas de minha família, como meus pais que por mais de quinze anos não se falavam e nem dividiam o mesmo ambiente, conversaram e permaneceram juntos em alguns momentos durante minha internação. Ao ler uma publicação oferecida pelo hospital, descobri que ele havia firmado uma parceira com meu plano de saúde há cerca de seis meses. Ou seja, caso isso tivesse acontecido antes, não poderia ser atendida em um dos melhores hospitais da América Latina.
Durante minha internação, recebi a visita de praticamente todos de minha unidade de negócios de uma grande multinacional química alemã. Admitida há apenas sete meses, durante uma dessas visitas, descobri que recebera um segundo aumento salarial. Recebi a visita de pessoas muito ocupadas, mas que não mediram esforços para estar comigo, nem que fosse por alguns minutos. Alguns curiosos, outros realmente preocupados, outros intercessores anônimos oraram por minha recuperação milagrosa.
Lembrei-me de uma conversa na qual explicava minha fé e confiança na vontade soberana de Deus. A ouvinte de tal afirmação de forma contrariada rebateu que essa confiança toda estava baseada no fato de ser solteira, pois caso a morte chegasse, ninguém sentiria minha falta, não tendo marido nem filhos para sentir a perda.
Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto e não sentirá quando vem o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável. Bendito o varão que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque ele será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se afadiga nem deixa de dar fruto. (Jeremias 17:5-8 ARC)
A cada dia, minha reserva de amor era preenchida. Se antes, me sentia sozinha, agora, estava vivendo a plenitude de amor. A cada dia, percebia o quanto era amada e isso me fortalecia. E cada vez mais, percebia que as palavras ditas naquela conversa não faziam o menor sentido. Ainda que fosse sozinha, que meu pai ou minha mãe tivessem me abandonado, ainda assim poderia contar com o amor de Deus.
Porque, quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá. (Salmos 27:10)
Todos os que foram me visitar e todos os que intercederam por minha cura, foram usados como instrumentos do amor de Deus. Nesse momento de fragilidade, o amor é o melhor tratamento e me deu forças para continuar a lutar, a permanecer e prevalecer sobre a doença. O amor perfeito lança fora todo o medo.
No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor. (1 João 4:18)
Pessoas conhecidas e até desconhecidas estavam orando por minha recuperação. Qual a razão de orarmos uns pelos outros, senão o amor de Cristo que está em nós?
Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros. (João 13:34-35)