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Como viver o “só por hoje”?

O meu passado era tenebroso, porém conhecido, já o meu futuro glorioso, porém desconhecido. A frase mais recorrente em minha mente era “Não sei”, qualquer pensamento, qualquer sentimento que se formava vinha acompanhado de uma sensação de incerteza e de até insegurança. Incerteza sobre minha vida no curto e médio prazo:

  • Qual seria o desafio do dia?

  • Qual seria o desafio do ano?

  • Estava vivendo aquilo que era para estar vivendo, ou estava vivendo aquém de minhas possibilidades.

  • Estava aproveitando a vida como alguém que sabe o valor da vida, ou estava apenas contando as horas e os dias até que tudo mudasse ou até mesmo acabasse?

Pensamentos de incerteza me levaram a pensar se minha vida realmente estava valendo a pena, pensava que algumas pessoas sabiam como viver, se divertiam, se alegravam com as coisas simples da vida. Mas me sentia privada de tais sentimentos, como se a mim coubesse apenas à parte chata de estar viva. Minha fé no amanhã, no eterno me ajudava a manter o meu status, pois com a expectativa de vida plena na presença de Jesus, tornava injusta qualquer comparação com minha situação atual.

Tudo é vaidade, já dizia o sábio e percebeu que tudo realmente não passa de vaidade, uma bolinha de sabão, que apesar de sua beleza dura apenas alguns segundos.

Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. (Eclesiastes 1:2)

O paralelo com minha vida era inevitável, uma vida linda, mas que nessa terra dura minutos se comparada com a eternidade.

O que suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria. (Eclesiastes 9.10 NVI)

Segundo as escrituras, Deus amou o mundo de tal maneira que enviou o seu filho unigênito para que todo que nele crê, tenha vida, vida em abundância. Esse versículo me atormentava em um bom sentido.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16)

Como então, ter uma vida plena aqui enquanto se espera pela eternidade?

Essa questão não saia de minha mente.

  • Como conseguir viver tudo aquilo que Jesus havia conquistado em meu lugar na cruz do calvário?

  • Estaria vivendo a vida conquistada por Jesus de forma abundante?

A cada dia basta o seu mal

Ao me deparar com dilemas no geral, seja os meus ou dos outros, conseguia trilhar opções lógicas a serem seguidas. Porém, estava me sentindo incapaz de desenhar opções lógicas para serem seguidas, pois sentia que a cada passo, uma madeira fosse colocada debaixo de meus pés suspensos no ar. Como se uma grande ponte estivesse sendo construída, a cada decisão, a cada passo tomado. Totalmente sem controle da situação. Totalmente em meu ponto zero. Totalmente dependente de Deus. Procurava viver o “só por hoje” a cada dia, mas as dores, o cansaço, as limitações e a perda de ânimo me abatiam diariamente por algumas horas. A luta pela perspectiva no futuro oscilava entre o medo e a esperança. E a cada dia me alimentava da palavra de Deus, procurava estar presente aos cultos de adoração a Deus e fortalecer em minha mente aquilo que me trazia esperança. Por mais que estivesse certa de que Deus estava agindo a meu favor, os pensamentos de medo e insegurança me acompanhavam, mas com resistência procurava permanecer para prevalecer no Senhor.

Lembrei-me de ter ouvido que Deus tinha pensamentos de paz e não de mal a meu respeito.

Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. (Jeremias 29:11)

E que isso, por si, já era suficiente para aquietar a minha alma. Por várias vezes, a exemplo do salmista ordenei à minha alma que louvasse ao Senhor.

Louvai ao Senhor. Ó minha alma, louva ao Senhor. Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus enquanto eu for vivo. (Salmos 146:1-2)

Por muitas vezes, iniciei minha seleção de louvores no Youtube e ignorava as primeiras estrofes, mas o louvor ia de certa forma quebrando as barreiras, rompendo as cadeias e por inúmeras vezes, em meus momentos mais difíceis me peguei louvando a Deus e mudando meus pensamentos e logo em seguida minhas atitudes.

Cobranças injustas

Cinco meses após a cirurgia ainda sentia dor na cicatriz, era normal e esperado. Afinal os músculos haviam sido cortados para que os médicos pudessem alcançar a parte do duodeno afetada. Algumas pessoas me cobravam, achavam que era frescura e que não havia mais motivo para sentir dor ou me limitar de algumas coisas.

Pessoas com feridas emocionais às vezes levam meses e até mesmo anos para se recuperarem, porque então, a cicatrização de uma cirurgia de grande porte deveria ser instantânea?

O que pode ser animador para alguns para outros pode soar como cobrança, e ao invés de ânimo, gerar mais desânimo. É preciso encontrar o equilíbrio entre a cobrança e o estímulo. A visão do todo pode ajudar neste momento. Não se pode olhar apenas para o processo natural, físico de uma recuperação pós-cirúrgica, levando em consideração apenas o tempo médio de cicatrização. A média só por si trata do tempo médio, mas não o tempo exato de recuperação. Para se chegar à média de seis meses, por exemplo, poderiam ter sido analisados pacientes com recuperação em dois meses e outros em dez meses. E se eu estivesse mais próxima dos extremos e não da média?

Adicionalmente a recuperação física é necessário avaliar a recuperação emocional. Um atleta que teve uma lesão muscular durante sua atividade regular, também precisa recuperar a confiança e restabelecer os limites de seu corpo. Os jogadores de futebol, por exemplo, voltam aos poucos, com poucas horas de treino, para recuperar não só os movimentos, mas também sua confiança e perda do medo de se machucar novamente.

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