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Até aqui nos ajudou o Senhor!
Então tomou Samuel uma pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e chamou-lhe Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o Senhor. (1 Samuel 7:12)
Dei-me conta que o louvor que mais cantei no ano anterior era A alegria do Senhor e declava que a alegria do Senhor era a minha força!
Literalmente, vivi isso, sobrevivi à anemia profunda sem ter minhas atividades reduzidas e ainda sem que isso me trouxesse qualquer dano físico. Aprendi durante a internação, que pessoas com o mesmo nível de hemoglobina que eu estava, chegam desmaiadas em ambulâncias na emergência hospitalar. Deus me sustentou, enquanto estava sem sangue.
Todos os exames que estavam fora da cobertura do plano de saúde, foram pagos através de provisão divina. Ora foi o aumento salarial, ora foi o prêmio de reconhecimento ao mérito, ora foi o resultado do plano de participação dos resultados da empresa. Deus permitiu que eu viajasse para a Europa e me reencontrasse com meus amigos três meses após a minha alta hospitalar. Foi como um sonho, estar de volta a um dos lugares que mais gosto de estar, com pessoas tão queridas e especiais.
Quando o SENHOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o Senhor a estes. Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres. Traze-nos outra vez, ó Senhor, do cativeiro, como as correntes das águas no sul. Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. (Salmos 126:1-6)
Meus familiares antes tão distantes começaram pouco a pouco a participar mais de meu tratamento e seu amor e cuidado me ajudaram a superar as fases iniciais do tratamento.
Em tempo recorde, consegui me mudar para um apartamento na mesma rua de meu trabalho. Ao invés de dirigir ou contar com o transporte público lotado, passei a caminhar até o escritório. Eram apenas 450 metros de distância. O desânimo gerado pelo tratamento era parcialmente minimizado com a ajuda de antídotos, porém esses, não fazem parte do tratamento oficial e por isso, não são cobertos pelo plano de saúde. Ao questionar que parte de meu salário estava sendo usado para pagar esses antídotos, logo recebi uma resposta divina. Ao consultar meu saldo no programa de créditos de ICMS, Nota Fiscal Paulista, maravilhei-me ao ver que teria direito ao crédito do imposto referente às notas fiscais de compra do Glivec®. Ou seja, recebi ajuda financeira para manter os antídotos, e, consequentemente meu tratamento, e, por inúmeras vezes, ganhei caixas dos medicamentos antídotos.
Poderia ter optado por permanecer afastada do trabalho durante o tratamento, mas decidi voltar ao trabalho. Consegui a flexibilização de minha jornada de trabalho e as crises de desânimo não me impediram de trabalhar nem de contar com a graça de Deus. Certa vez, decidi começar um novo tipo de relatório e trabalhei até mais tarde preparando as bases e a estrutura dele. No dia seguinte, ao chegar por volta das onze horas da manhã, um diretor me procurou e solicitou um relatório especial. Para surpresa dele, em tempo recorde, ele estava com o relatório finalizado em sua caixa de entrada de e-mail. Sem a intervenção da graça no dia anterior, com certeza precisaria de muito mais tempo para atendê-lo.
Ainda em tratamento, minha avaliação de desempenho referente ao ano de 2014 me rendeu o status de “supera as expectativas” e ganhei o meu segundo prêmio de reconhecimento ao mérito. Esse segundo prêmio foi tão ou mais especial que o primeiro, pois foi obtido durante um ano difícil de quimioterapia. Ainda que com dores e mal-estar, consegui superar a expectativa de todos.
Inicialmente, o tratamento preventivo era de 400mg de Glivec®, sete dias por semana durante três anos. Devido à sensibilidade de minhas células, o tratamento se estabilizou em 300mg, cinco dias por semana. Com a possibilidade de se encerrar em um ano. A lógica apresentada foi que suas células estavam sofrendo mais impacto com a dose recomendada o que geralmente ocorre com outros pacientes, sendo assim, o efeito do tratamento de um ano poderia ser equivalente ao tratamento de três anos em outros pacientes.
Até aqui, o Senhor me tem ajudado. O rápido diagnóstico e a cura. A rápida recuperação e volta ao trabalho. E agora, a possibilidade de ter o tratamento encerrado em um ano.
Tratamento encerrado em 1/3 do tempo previsto
Depois de um ano de tratamento preventivo, mais um dia de hospital. Desta vez, para avaliar a possibilidade de encerramento da quimioterapia. Hemogramas, ressonância magnética e consulta médica. Entre uma ala e outra do hospital, lembrei-me dos vários passeios pelos corredores do Sírio Libanês, conduzidas pela equipe de enfermagem, através de macas e cadeiras de rodas. Nas três semanas de internação, fizera tantos exames que quase já tinha um mapa mental dos corredores do Hospital. Desta vez, o trajeto foi feito sozinha. Ao chegar para a ressonância fui atendida por uma moça em treinamento, o que ao invés de me irritar, me alegrou, com sua atenção redobrada aos detalhes e cuidados, apesar de ter cometido algumas “gafes” como permitir que fosse levado o aparelho celular para a sala da RM. No vestiário, lembrei-me da primeira vez que usei a camisola cedida para exames. Fiquei toda desarrumada, me sentindo ainda mais debilitada. Passados meses e vários exames, desta vez, estava bem, aprendi a vestir corretamente a roupa do hospital de forma me sentir bonita, mesmo indo fazer o exame. Aprendi acompanhando uma amiga em outra situação, a sempre levar meias para vestir durante os exames. As salas geralmente possuem temperatura baixa. Estava tão bem e otimista que escolhi meias divertidas com cara de vaquinha. A alegria era real naquele dia. A realização do exame ocorreu sem intercorrências e não houve necessidade de contraste.
Estava aérea, desligada, pensando em outras coisas. Constatei o quanto é difícil ficar sozinha para ler. Tinha duas opções de leitura, mas as troquei por mensagens no Whatsapp. Pode ser que naquele momento, por mais que não quisesse ter alguém enchendo a minha cabeça com suas incertezas sobre o futuro, gostaria de não estar sozinha. Queria compartilhar o que estava acontecendo com alguém. Ainda que indiretamente através de mensagens instantâneas. A consulta não durou mais que cinco minutos. Exames normais, término da quimioterapia e volta a vida normal. O medo do amanhã veio instantaneamente, ficarei bem sem o tratamento preventivo? Mas há tempo para todas as coisas. O acompanhamento mensal fora substituído pelo semestral. A cura estava finalmente se materializando.
Lembrei-me de minha experiência profissional no ramo de entretenimento, muito esforço e atenção no lançamento do título, acompanhamento e prestação de contas mensais durante o primeiro ano e semestrais no segundo. Sabia que estava caminhando para o acompanhamento anual. O medo veio a minha mente. Mas da mesma maneira que vivia o só por hoje, era preciso continuar a viver a cada dia o seu próprio mal. O amanhã, a Deus pertence.
Hoje, enquanto finalizava esse livro, estava bem, sem necessidade de quimioterapia. Com alegria e louvor a Deus por isso. Amanhã, continuarei a louvar e agradecer por Deus ser presente em minha vida.
Os dias do último ano não foram perfeitos, nem sempre consegui me alimentar de forma adequada. Muitas vezes, minha alimentação era vergonhosa, baseada em chocolate, Red Bull, pipoca e algumas frutas. Mesmo assim, consegui manter meu peso e exames com índices normais.
As dores no corpo foram investigadas e diagnosticas como Fadiga Oncológica. Alguns outros antídotos foram adicionados a minha rotina, mas nada que me impediram de viver tudo aquilo que o Senhor tem planejado para minha vida.
FERNANDINHO. A Alegria do Senhor. Rio de Janeiro: Onimusic, 2012. Disponível em https://youtu.be/ozZfvE1p5zM. Acesso em 12 de setembro de 2021.
Nome comercial de Mesilato de Imatinibe