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Ainda no Box do pronto-socorro, enquanto tentava dormir ou entender tudo o que estava acontecendo, lembrei-me de uma conversa recente que seguramente marcou meu período de internação. O tema da conversa era doenças raras.
Por que algumas pessoas parecem ter um “X” na cabeça e são portadoras de doenças raras enquanto outras vivem suas vidas sem grandes “desafios” nessa área?
De forma singela, minha amiga médica durante um café, comentou que se alegrava quando recebia pacientes com doenças raras ou “inéditas” em seus plantões, pois segundo ela, essas pessoas eram usadas como instrumentos de cura na vida de outras pessoas. Aliás, sugeriu que pessoas portadoras de doenças raras escrevessem suas experiências de forma a compartilhar com outros e assim ajudá-los a passar pelas fases de tratamento.
Quanto mais um médico tem contato com uma patologia, mais esse tem chance de acertar o diagnóstico e o tratamento em outros pacientes. O que me marcou nessa conversa, foi o fato de as pessoas com doenças raras poderem ser instrumentos de cura na vida de outros pacientes. Perguntei:
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Como a dor de alguém poderia ajudar a outros?
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Por que alguns são escolhidos para experimentar a dor do desconhecido ou da falta de recursos por conta da “ignorância” médica em relação determinada doença, seus sintomas e tratamento?
Segundo a médica, ao se deparar com um diagnóstico novo ou raro, os médicos precisam de mais tempo para tratar o paciente, e muitas vezes, as pessoas chegam aos hospitais sem tempo para a investigação completa que diagnósticos complexos exigem. Porém, uma vez estudado ou presenciado, o paciente seguinte com tal diagnóstico, conta com a experiência adquirida anteriormente e de forma mais rápida se chega ao diagnóstico e tratamento. É possível salvar mais vidas quando se conhece as formas que a doença se apresenta bem como quais os tratamentos mais eficazes para cada tipo de patologia. É possível ser usada como um instrumento de cura na vida de pessoas!
Esse foi o meu pensamento fortalecedor enquanto era abatida durante todo o processo de diagnóstico.
Lembrei-me que Deus dá a cada um conforme a sua capacidade. Na parábola dos dez talentos, cada um recebeu o talento conforme a sua capacidade.
Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens. E a um deu cinco talentos, e a outros dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe. E, tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois, granjeou também outros dois. Mas o que recebera um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles. Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. E, chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos. Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 25:14-30)
Os fortes passam por coisas difíceis porque são capazes de superá-las. Os fracos não resistiriam ou não saberiam o que fazer, talvez enterrando o talento que fora dado por Deus. Parece clichê ou autoajuda, mas esse entendimento fez sentido durante as longas semanas de internação: Ser usada como instrumento de Deus, é meu propósito de vida.
Apesar de não entender o que estava vivendo, compreendi que aquilo não só fazia parte do plano de Deus para minha vida como também de muitas outras pessoas. Seria arrogância pensar que estava sendo usada por Deus? Até poderia ser, mas para que Deus criou o homem afinal?
Muitas respostas podem ser dadas, mas creio que a criação do homem tem como propósito a adoração e glorificação do nome de Deus. Não estaria a humanidade a espera pela manifestação dos filhos de Deus? Será que tudo isso aconteceu para que as pessoas vissem que existe um Deus que cuida dos seus e o mais importante, que Deus é amor e não encontra limites para demonstrar tal amor e salvar a humanidade, ao ponto de enviar o Seu único filho para que todo que Nele crer não pereça, mas tenha vida eterna?
Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; (Efésios 1:11-12)
Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. (Romanos 8:19)
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3.16)
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações. (2 Coríntios 1:3,4 NVI)
Ainda em minha mente, uma voz me fazia lembrar que todas as coisas cooperam para aqueles que amam a Deus. Eu não tinha dúvida em relação ao meu amor por Deus e por consequência, não duvidava que aquilo que estava passando, por mais assustador que fosse, com certeza, de alguma forma iria cooperar para o meu bem.
E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Romanos 8:28)