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Reinaldo Gonçalves

Introdução

O objetivo geral deste artigo é fazer balanço crítico do processo de desenvolvimento econômico do Brasil durante os governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores a partir de 2003. O objetivo específico é analisar três hipóteses: (i) há continuidade do Modelo Liberal Periférico (MLP) que é implementado no governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) e consolidado nos governos Lula (Luís Inácio Lula da Silva) e Dilma (Rousseff)[1];  (ii) o legado dos governos do PT é o fraco desempenho da economia brasileira quando se consideram os padrões históricos do país; e (iii) nos governos do PT o fraco desempenho da economia brasileira é evidente pelos atuais padrões da economia mundial.

A vitória eleitoral da Frente Democrática e Popular em 2003, sob a liderança do Partido dos Trabalhadores (PT), gerou a expectativa de que haveria ruptura com o modelo liberal aplicado no país a partir de 1990. A “mudança de rota” geraria processo dinâmico de desenvolvimento econômico visto que a trajetória ideológica-política do PT era no campo da esquerda. Quando completa 10 anos de governo, depois de dois mandatos de Luís Inácio Lula da Silva e durante o mandato de Dilma Rousseff, o próprio PT apresenta balanço dos 10 anos de governo e destaca a ruptura com o modelo neoliberal (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2013). O ponto central é que os governos do PT teriam representado ruptura com o neoliberalismo e estariam aplicando o modelo desenvolvimentista e, ademais, em relação ao desempenho econômico, o período 2003-12 teria sido o “decênio glorioso” ou o “decênio que mudou o Brasil” (Ibid, p. 8 e p. 17).

O próprio PT, no balanço dos 10 anos de governos petistas, faz a comparação dos desempenhos econômicos nos governos Lula e Dilma e com o desempenho nos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) (Ibid). Este tipo de enfoque, ainda que não seja incorreto, é insuficiente na medida em que deixa de lado duas comparações relevantes. A primeira é a comparação do desempenho da economia brasileira nos governos petistas com o desempenho em outros períodos da história econômica do país e não somente no governo FHC. A segunda envolve a avaliação do desempenho econômico do Brasil comparativamente ao do resto do mundo. Ou seja, a avaliação do documento PARTIDO DOS TRABALHADORES (2013) tem duas grandes ausências: a perspectiva histórica e a comparação com as experiências internacionais recentes. Neste artigo procura-se superar estas deficiências metodológicas tendo como referências o padrão histórico e o padrão internacional.

Na seção 1 discute-se a hipótese de manutenção do Modelo Liberal Periférico durante os governos petistas. Na seção 2 analisa-se, em perspectiva histórica, o desempenho macroeconômico durante os governos petistas. A seção 3 discute o dinamismo econômico associado à geração de renda e à acumulação de capital segundo o padrão internacional. Este padrão também é usado na seção 4 em que se examina a desestabilização macroeconômica no front interno (inflação) e no front externo (balanço de pagamentos). A seção 5 foca na vulnerabilidade externa estrutural causada pelo passivo externo líquido. A seção 6 analisa o custo de carregamento das reservas internacionais, cujo aumento é considerado como “conquista notável” no período 2003-12. A seção 7 retoma a comparação com o padrão internacional e avalia os desequilíbrios de fluxos e estoques relativos às finanças públicas. A seção 8 destaca a elevação significativa do endividamento e da inadimplência das empresas. A seção 9 destaca o aumento extraordinário das pessoas físicas endividadas e “negativadas” a partir de 2003. A última seção apresenta síntese dos principais resultados.

 

1. Modelo Liberal Periférico

No conjunto de estudos sobre a evolução da economia brasileira a partir de 2003 alguns analistas concluem que “o Brasil mudou de rota” visto que houve ruptura com o projeto neoliberal (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2013, p. 9 e 16; MORAIS e SAAD-FILHO, 2011; MERCADANTE, 2010; BARBOSA e DIAS, 2010; SADER e GARCIA, 2010; e MERCADANTE, 2006). Segundo estes analistas, a ruptura com o modelo liberal implicaria, inclusive, transformações estruturais e novo modelo desenvolvimentista no país com grandes transformações, reversão de tendências estruturais e predominância da visão desenvolvimentista nas políticas dos governos petistas. Esta última tese é contestada a partir da evidência empírica de que não houve mudanças estruturais na economia brasileira no sentido do modelo desenvolvimentista; muito pelo contrário, as mudanças foram na direção inversa (desenvolvimentismo às avessas) (GONÇALVES, 2012.a e GONÇALVES, 2013.a).

Difunde-se, ainda, o argumento de que “os dez últimos anos mudaram o Brasil, permitindo reverter a decadência induzida pela rota da neocolonização neoliberal” (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2013, p. 5). Esta seção trata de apresentar evidência que é diametralmente oposta a este argumento; ou seja, a partir de 2003 houve o aprofundamento do Modelo Liberal Periférico (MLP) conforme discutido em outros trabalhos (PAULA, org., 2003; PAULA, org., 2005; FILGUEIRAS e GONÇALVES, 2007; GOMES e PINTO, 2009; CARCANHOLO, 2010; PINTO, 2010; SAMPAIO JR., 2012; GONÇALVES, 2013.a).[2] A análise empírica foca em indicadores de liberalização econômica no Brasil no passado recente e, particularmente, a partir de 2003. A Tabela 1 apresenta os indicadores de Liberalização Econômica calculados pelo Instituto Fraser[3].

 

Tabela 1 

Liberalização econômica, Brasil – Índices Instituto Fraser: 1970-2012

  Brasil Média mundial Mediana mundial Brasil – média mundial Brasil – mediana mundial
1970 5,1 5,9 6,0 -0,8 -0,9
1975 4,1 5,3 5,4 -1,2 -1,3
1980 3,8 5,3 5,3 -1,5 -1,5
1985 3,3 5,3 5,2 -2,1 -1,9
1990 4,5 5,7 5,5 -1,2 -1,0
1995 4,7 6,1 6,1 -1,4 -1,4
2000 5,9 6,6 6,7 -0,7 -0,8
2001 5,9 6,5 6,6 -0,7 -0,7
2002 6,2 6,6 6,7 -0,4 -0,5
2003 6,0 6,7 6,8 -0,7 -0,8
2004 6,0 6,6 6,7 -0,6 -0,7
2005 6,3 6,8 6,9 -0,5 -0,6
2006 6,2 6,8 7,0 -0,6 -0,8
2007 6,2 6,9 7,0 -0,7 -0,8
2008 6,4 6,8 6,9 -0,4 -0,5
2009 6,3 6,8 6,9 -0,5 -0,6
2010 6,4 6,8 7,0 -0,4 -0,5
Memo
2000-02 6,0 6,6 6,6 -0,6 -0,7
2003-06 6,1 6,7 6,9 -0,6 -0,7
2007-10 6,3 6,8 7,0 -0,5 -0,6
 Fontes e notas: Elaboração do autor. Dados do Instituto Fraser. Disponível aqui. Acesso: 30 de março de 2013. Índices variam de 0 (liberalização nula) a 10 (liberalização máxima). A base de dados aumenta de 54 países em 1970 para 144 países em 2010.

 

A perspectiva histórica destaca que há retrocesso da liberalização econômica no Brasil e no mundo entre 1970 e 1985. Este fato é explicado pela grave crise econômica internacional que eclode em 1973, em decorrência da elevação do preço do petróleo, e que se estende por uma década nos países desenvolvidos. A partir de meados dos anos 1980, com a relativa estabilidade e o fenômeno da globalização econômica, há o avanço gradativo do processo de liberalização. Este avanço é interrompido pela eclosão da crise global de 2008. Na realidade, este é um processo conhecido: a crise econômica requer o uso de medidas restritivas que envolvem redução da liberalização econômica. Ou seja, a obtenção de grau de autonomia de políticas econômicas requer maior intervenção estatal na economia.

No Brasil o retrocesso da liberalização é parte não somente do processo de ajuste macroeconômico como também dos planos de desenvolvimento assentados na industrialização substitutiva de importações nos anos 1970. Nos anos 1980 a crise da dívida externa é determinante da evolução da economia brasileira e, em certa medida, restringe as possibilidades de adoção de medidas liberalizantes. A inflexão tem marco histórico com o início do governo Collor em 1990. Entretanto, a liberalização Brasil somente avança significativamente no governo FHC a partir de 1995 e, principalmente, no segundo mandato (1998-2002) quando a liberalização veio acompanhada de extraordinário processo de privatização (CANO, 1999; CARCANHOLO, 2005). Liberalização e privatização são, de fato, pilares do MLP.

A evidência empírica é conclusiva: o índice de liberalização do Brasil aumenta de 4,7 em 1995 para 6,2 em 2002, e chega a 6,4 em 2010. Ainda que em todos os anos do período 1995-2010 o Brasil apresente índices menores do que as médias e medianas mundiais, há redução do hiato de liberalização (índice de liberalização no Brasil – índice mundial) neste período.

As médias dos subperíodos correspondentes aos diferentes mandatos mostram que a liberalização econômica no governo Lula aumenta: o índice médio do final do governo FHC (2000-02) é 6,0 e os índices médios no governo Lula são 6,1 (primeiro mandato) e 6,3 (segundo mandato). No final do governo Lula (2010) os hiatos entre o índice de liberalização no país e no resto do mundo (média e mediana) são exatamente iguais aos hiatos no último ano do governo FHC (2002).

No conjunto das esferas das relações econômicas internacionais (comercial, produtiva, tecnológica e financeira) a esfera financeira é aquela em que o país tem maior vulnerabilidade externa (GONÇALVES, 2005, capítulo 5). Cabe, portanto, apresentar evidência a respeito da evolução do índice de abertura financeira do país. O indicador usado é o índice Kaopen que incorpora restrições relativas às seguintes questões: sistema cambial; receita de exportação; conta corrente; e conta de capital e financeira do balanço de pagamentos (CHINN e HO, 2008)[4]. A evidência apresentada no Gráfico 1 é clara: tendência de aumento da abertura financeira da economia brasileira a partir do segundo governo FHC. Esta tendência é reforçada nos governos petistas (2003-11) visto que o índice de abertura financeira do Brasil tende a superar a mediana mundial a partir de 2005.

Capitulo2

Então, a evidência é conclusiva: contrariamente ao argumento de que há ruptura com o modelo liberal a partir de 2003, o que de fato acontece é que o processo de liberalização se consolida e até mesmo avança durante o governo Lula.

 

2. Desempenho macroeconômico em perspectiva histórica

A avaliação do crescimento da renda durante os governos do PT é conclusiva: fraco desempenho pelo padrão histórico brasileiro. Como mostra a Tabela 2, a taxa secular de crescimento médio real do PIB brasileiro no período republicano é 4,5% e a taxa mediana é 4,7%. No governo Lula a taxa média anual é 4,0% enquanto as estimativas e projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o governo Dilma informam taxa média de 2,8%. O resultado é desfavorável: no rank dos presidentes do país, Lula está na 19ª posição e Dilma está com desempenho ainda pior (24ª posição), em um conjunto de 30 presidentes com mandatos superiores a um ano.

 

Tabela 2

Variação % real do PIB segundo o mandato presidencial, média anual, 1890-2014

    Variação real do PIB     Variação real do PIB
1 Garrastazu Médici 11,9 16 José Sarney 4,4
2 Deodoro da Fonseca 10,1 17 Getúlio Vargas I 4,3
3 Café Filho 8,8 18 Castello Branco 4,2
4 Jânio Quadros 8,6 19 Lula 4,0
5 Juscelino Kubitschek 8,1 20 Artur Bernardes 3,7
6 Costa e Silva 7,8 21 João Goulart 3,6
7 Eurico Dutra 7,6 22 Hermes da Fonseca 3,5
8 Epitácio Pessoa 7,5 23 Campos Sales 3,1
9 Ernesto Geisel 6,7 24 Dilma Rousseff 2,8
10 Nilo Peçanha 6,4 25 Afonso Pena 2,5
11 Getúlio Vargas II 6,2 26 João Figueiredo 2,4
12 Washington Luís 5,1 27 Fernando Henrique 2,3
13 Itamar Franco 5,0 28 Venceslau Brás 2,1
14 Rodrigues Alves 4,7 29 Fernando Collor -1,3
15 Prudente de Morais 4,5 30 Floriano Peixoto -7,5
 Média 4,5  Mediana 4,7
Fontes: Elaboração do autor.
Nota: A média para o governo Dilma Rousseff baseia-se nas estimativas e projeções do FMI (FMI, 2012).

 

O fraco desempenho macroeconômico durante os governos petistas também aparece quando se analisa indicador-síntese do desempenho macroeconômico em perspectiva histórica. Para isto, cabe usar o Índice de Desempenho Macroeconômico segundo o mandato presidencial. O IDM de cada mandato é a média simples dos índices correspondentes a seis variáveis macroeconômicas: variação do PIB, hiato de crescimento (diferença entre a taxa de variação do PIB brasileiro e a taxa de variação do PIB mundial), variação do investimento, inflação, razão dívida pública interna / PIB, e dívida externa / exportação (FILGUEIRAS e GONÇALVES, 2007, pp. 237-239).

De modo geral, como mostra a Tabela 3, os governos com melhores resultados foram os da Era Desenvolvimentista (1930-79). Os piores desempenhos marcam os governos das fases Crise, instabilidade e transição (1980-94) e Modelo Liberal Periférico (1995 em diante). Neste último, vale destacar o desempenho medíocre do governo FHC e o fraco desempenho do governo Lula. Ambos os governos têm indicadores-síntese abaixo da média e da mediana do conjunto de 29 governos. O governo FHC ocupa a 28ª posição (penúltima) e o governo Lula está na 22º posição. Portanto, pode-se afirmar que o desempenho econômico do Brasil foi medíocre no governo FHC e fraco no governo Lula. No que se refere ao governo Dilma, os indicadores apontam para desempenho pior do que o obtido pelo governo Lula[5]. Portanto, o governo Dilma está em uma posição entre o fraco desempenho do governo Lula e desempenho ruim do governo FHC.

 

Tabela 3
Índice de Desempenho Macroeconômico (IDM) segundo o mandato presidencial, 1890-2010

    IDM     IDM
1 Eurico Dutra 76,9 16 Ernesto Geisel 60,5
2 Garrastazu Médici 74,9 17 Prudente de Morais 59,1
3 Epitácio Pessoa 73,9 18 Artur Bernardes 58,9
4 Café Filho 71,3 19 Getúlio Vargas I 57,7
5 Deodoro da Fonseca 71,3 20 Castello Branco 56,6
6 Getúlio Vargas II 70,6 21 João Goulart 55,5
7 Juscelino Kubitschek 69,3 22 Lula 50,4
8 Nilo Peçanha 69,1 23 Itamar Franco 48,6
9 Costa e Silva 68,6 24 Floriano Peixoto 47,5
10 Rodrigues Alves 67,5 25 Venceslau Brás 45,4
11 Washington Luís 64,4 26 João Figueiredo 45,2
12 Afonso Pena 62,6 27 José Sarney 43,7
13 Hermes da Fonseca 62,5 28 Fernando Henrique 39,6
14 Campos Sales 62,3 29 Fernando Collor 32,2
15 Jânio Quadros 61,4
Média 56,0   Mediana 60,0
Fontes e notas: Mediana e média (geométrica) referem-se ao período republicano (1890-2010). O IDM de cada mandato é a média simples dos índices correspondentes a cada uma das seis variáveis macroeconômicas: variação do PIB; hiato de crescimento (diferença entre o crescimento da renda per capita no Brasil e no resto do mundo); variação do investimento; inflação; razão dívida pública interna / PIB; e dívida externa / exportação. Para as fontes e detalhes metodológicos, ver FILGUEIRAS e GONÇALVES (2007), pp. 237-239.

 

3. Dinamismo econômico: renda e investimento

No que se refere à evolução da economia brasileira encontra-se o argumento que “o decênio glorioso não surpreende mais o mundo” visto que “o Brasil se transformou em uma referência global a ser seguida” (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2013, p. 19-20). Entretanto, a realidade é diametralmente oposta. O fraco desempenho dos governos petistas também é evidente quando se observam os padrões atuais de desempenho da economia mundial. Na Tabela 4 compara-se o crescimento do PIB brasileiro durante os governos petistas com a média simples e a mediana das taxas de crescimento de cada um dos 186 países que são membros do FMI e que formam painel representativo da economia mundial. Verifica-se que a taxa média durante os governos Lula e Dilma (3,6%) é menor do que a média simples (4,6%) e a mediana (4,4%) das taxas de crescimento dos 186 países do painel [6]

 

Tabela 4
Produto Interno Bruto e Investimento, Brasil e Mundo (média simples e mediana): 2003-2014 (variação real do PIB e relação investimento/PIB) (%)

PIB (variação %) Investimento / PIB (%)
  Brasil Posição do Brasil no rank mundial  Brasil – Mundo (média simples) Brasil – Mundo (mediana) Brasil Posição do Brasil no rank mundial  Brasil – Mundo (média simples) Brasil – Mundo (mediana)
2003 1,1 153 -3,7 -3,4 15,8 145 -6,9 -5,4
2004 5,7 73 -0,2 0,5 17,1 141 -6,2 -5,3
2005 3,2 129 -2,4 -2,1 16,2 154 -8,0 -6,2
2006 4,0 128 -2,1 -1,6 16,8 152 -7,6 -6,2
2007 6,1 89 -0,1 0,1 18,3 144 -7,0 -5,4
2008 5,2 76 0,3 0,2 20,7 123 -4,7 -3,3
2009 -0,3 100 -0,4 -1,5 17,8 127 -5,2 -3,1
2010 7,5 35 3,0 3,3 20,2 105 -3,2 -1,7
2011 2,7 114 -1,2 -1,5 20,6 107 -2,9 -1,6
2012 1,0 132 -3,2 -2,9 20,2 108 -3,6 -2,3
2013 3,5 85 -1,2 -0,4 20,8 106 -3,2 -2,3
2014 4,0 78 -0,3 0,0 21,2 105 -2,9 -2,0
Média 2003-14 3,6 99 -1,0 -0,8 18,8 126 -5,1 -3,7
Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor.
Notas: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. A posição do Brasil corresponde à ordenação dos países do painel em ordem decrescente. No que se refere ao investimento os dados para 2012-2014 são de 170 países que têm dados para todos os anos.

 

Nos doze anos analisados, a taxa de crescimento econômico brasileiro é menor do que a média simples e a mediana da economia mundial em dez e sete anos, respectivamente. O fraco desempenho da economia brasileira também é informado pela posição do Brasil no rank mundial segundo a taxa de variação do PIB, em ordem decrescente. A média e a mediana das posições do Brasil são 99 e 95, respectivamente. Considerando o painel do FMI (186 países), constata-se que mais da metade dos países tiveram melhor desempenho que o Brasil no período dos governos petistas.

O fraco desempenho do crescimento econômico durante os governos petistas está diretamente associado às baixas taxas de investimento da economia brasileira. No período 2003-14 a taxa média de investimento do Brasil é 18,8% enquanto a média e a mediana do painel do FMI são 23,9% e 22,5%, respectivamente. De fato, a economia brasileira apresenta uma das mais baixas taxas de investimento do mundo. No painel de 170 países (ordem decrescente) o Brasil ocupa a 126ª posição (média para o período 2003-14). Vale destacar que estas diferenças são muito significativas – a média mundial é quase 30% maior que a taxa brasileira. E, ademais, vale destacar que a taxa de investimento do Brasil é menor do que a média e a mediana mundiais em todos os anos de governo petista.

 

4. Estabilização macroeconômica: inflação e contas externas

Durante os governos petistas a taxa média de inflação no Brasil é 6,1% (preços ao consumidor), enquanto a média mundial é 6,0% (Tabela 5). Esta taxa é ligeiramente maior do que a média simples (6,0%) das taxas de países do painel do FMI e muito maior do que a mediana (4,4%) das taxas destes países. A taxa de inflação no Brasil é maior do que média mundial em seis anos e maior do que a mediana mundial em nove anos.

O fraco desempenho também é revelado nas contas externas, como mostra a Tabela 5. Em todos os anos do período 2003-14 as comparações internacionais informam que a situação das contas externas do Brasil é mais favorável (ou menos desfavorável) que aquela informada pela média e mediana do mundo. Entretanto, o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos passa do superávit de R$ 4 bilhões em 2003 para déficit de US$ 24 bilhões em 2009, e cresce continuamente deste então. Estimativas do FMI indicam que o déficit chega a US$ 88 bilhões em 2014, último ano do governo Dilma. Na realidade, durante este governo o déficit também deve crescer continuamente quando medido como proporção do PIB. Quando Lula toma posse a relação saldo das contas externas / PIB é 0,8%, quando Dilma sair esta relação chegará a -3,3% do PIB. Evidência conclusiva de deterioração das contas externas durante os governos petistas.

 

Tabela 5
Inflação e contas externas Brasil, Mundo e Países em desenvolvimento (média simples e mediana): 2003-2014

Inflação (%) Saldo de transações correntes (% PIB)
  Brasil Posição do Brasil no rank mundial  Brasil – Mundo (média simples) Brasil – Mundo (mediana) Brasil (% PIB) Posição do Brasil no rank mundial  Brasil – Mundo (média simples) Brasil – Mundo (mediana)
2003 14,7 21 8,5 11,5 0,8 61 3,2 2,8
2004 6,6 55 1,1 3,0 1,8 54 4,0 3,9
2005 6,9 64 0,9 2,9 1,6 56 3,2 3,8
2006 4,2 100 -1,8 -0,2 1,3 65 1,8 3,9
2007 3,6 69 -2,5 -1,2 0,1 64 2,4 4,4
2008 5,7 132 -4,5 -3,2 -1,7 66 2,4 4,0
2009 4,9 64 0,2 1,8 -1,5 69 2,2 2,5
2010 5,0 64 0,4 1,4 -2,2 74 1,1 1,0
2011 6,6 67 -0,3 1,6 -2,1 82 1,6 1,0
2012 5,2 74 -0,9 0,7 -2,6 78 1,6 1,0
2013 4,9 80 -0,2 0,7 -2,8 83 1,3 0,5
2014 4,8 68 0,3 1,0 -3,3 92 0,6 0,0
Média 2003-14 6,1 72 0,1 1,7 -0,9 70 2,1 2,4
 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Notas: Inflação refere-se ao índice de preços ao consumidor. Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. A posição do Brasil corresponde à ordenação dos países do painel em ordem decrescente.

 

Após a eclosão da crise global em 2008 há clara tendência de queda do Brasil no rank mundial. O Brasil ocupa a 64ª posição (saldos em ordem decrescente) em 2007; a projeção do FMI é que o Brasil passará para a 92ª posição. Sem dúvida alguma, há significativa deterioração das contas externas brasileiras após a eclosão da crise global em 2008. Vale destacar que a diferença entre o saldo da conta de transações correntes (% do PIB) Brasil e do resto do mundo tem caído e, ademais, esta diferença deve se tornar nula em 2014. Portanto, pode-se argumentar que o governo Dilma deixará como legado a trajetória de negatividade de mais um indicador econômico.

 

5. Vulnerabilidade externa financeira: passivo externo

O fraco desempenho também é particularmente evidente quando se analisa o desequilíbrio de estoque – posição líquida de investimento internacional (ativo externo menos passivo externo) (Tabela 6). Este é, na realidade, um dos mais importantes indicadores de vulnerabilidade externa estrutural [7].

Os dados disponíveis mostram deterioração da posição do Brasil no rank mundial. Em 2006 o Brasil estava “negativado” em US$ 365 bilhões, ou seja, o passivo externo era maior do que o ativo externo (cujo item principal é a reserva internacional administrada pelo Banco Central). Em 2011 o Brasil estava negativado em US$ 738 bilhões. De fato, o país passou da 6ª posição no ranking mundial para a 4ª posição dos mais vulneráveis financeiramente. Naturalmente, não é possível comparar o Brasil com os Estados Unidos – país com o maior déficit (US$ 4 trilhões), simplesmente porque este país é o epicentro dos sistemas financeiro e monetário internacional. O país na segunda pior posição é a Espanha que, após a eclosão da crise global em 2008, tem enfrentado profunda crise econômica.

 

Tabela 6
Posição líquida de investimento internacional, países selecionados (US$ bilhões): 2006-11

  2006 2007 2008 2009 2010 2011
Estados Unidos -2.192 -1.796 -3.260 -2.322 -2.474 -4.030
Espanha -854 -1.211 -1.201 -1.415 -1.245 -1.264
Austrália -461 -561 -486 -685 -774 -848
Brasil -365 -536 -279 -596 -882 -738
Itália -402 -561 -528 -555 -495 -422
França 26 -41 -346 -255 -203 -411
Reino Unido -757 -647 -148 -477 -546 -404
México -357 -370 -322 -336 -409 -389
Turquia -206 -314 -200 -277 -362 -322
Indonésia -137 -169 -148 -214 -291 -319
Canadá -39 -172 -98 -197 -260 -271
Índia -60 -75 -86 -126 -203 -206
Irlanda -12 -54 -179 -226 -199 -197
Coréia do Sul -187 -230 -58 -105 -138 -85
Suécia -50 -7 -46 -36 -28 -35
África do Sul -41 -68 -10 -37 -68 -25
Áustria -70 -73 -67 -32 -31 -9
Argentina 21 34 58 59 47 52
Luxemburgo 59 53 63 44 51 59
Rússia -39 -151 255 103 16 138
Holanda 23 -51 35 138 178 277
Bélgica 120 143 192 266 307 314
Arábia Saudita 375 464 435 484 584
Cingapura 350 369 305 472 561 674
China/Hong Kong 528 492 632 735 665 711
Suíça 522 692 617 761 839 878
Alemanha 852 947 876 1.156 1.164 1.093
China 640 1.188 1.494 1.491 1.688 1.775
Japão 1.808 2.195 2.485 2.892 3.088 3.255
 Fonte: FMI, Principal global indicators.

 

6. Reservas internacionais: custos de carregamento

Como contraponto ao aumento do passivo externo, o acúmulo de reservas é visto como conquista notável dos governos petistas[8].

Nada mais distante da realidade. O crescimento das reservas internacionais respondeu, em grande medida, à conjuntura do sistema monetário e do sistema financeira internacionais, ao diferencial entre taxa de juro doméstica e taxa de juro internacional (prêmio de risco-Brasil ou spread) e às pressões ocasionais do setor exportador nos períodos de grande apreciação cambial[9] As estimativas sobre custo das reservas abordam dois lados da questão: custo cambial e custo fiscal. O primeiro decorre da diferença entre a taxa média de retorno de ativos de estrangeiros no país e a taxa média de remuneração das reservas internacionais brasileiras[10].

No período 2009-11 o custo cambial (média anual) estimado é US$ 5,7 bilhões, que representa 22,7% do superávit da balança comercial no período (Tabela 7).

 

Tabela 7
Custos das reservas internacionais: 2009-11

  2009 2010 2011 Média
Custo cambial (US$ milhões) 5.803 5.577 6.138 5.710
Custo cambial / Superávit balança comercial de bens (%) 22,9 27,6 20,6 22,7
Custo fiscal das reservas (R$ bilhões) 37,0 47,9 56,7 47,2
Custo fiscal / Resultado primário (%) 93,8 60,8 60,6 71,7
Custo fiscal (% do PIB) 1,1 1,3 1,4 1,3
 Fonte e nota: Elaboração do autor com base em dados do Banco Central e da Secretaria do Tesouro Nacional.

 

O custo fiscal, por seu turno, resulta da diferença entre o custo médio da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) e a taxa de remuneração das reservas internacionais[11]  Dado o enorme diferencial entre o custo da DPMFi e a remuneração das reservas, o custo fiscal é muito elevado. O custo fiscal (média anual) estimado para o período 2009-11 é R$ 47,2 bilhões, que representa 71,7% do superávit primário do governo central e 1,3% do PIB (Tabela 7). Portanto, tanto na ótica cambial como na fiscal, as reservas internacionais têm custos elevados para o país.

Os custos das reservas internacionais atingem níveis ainda mais elevados no caso do empréstimo feito ao FMI em 2010. Estimativas indicam que custo fiscal médio anual é R$ 2 bilhões (aproximadamente US$ 1,1 bilhão à taxa média de R$/US$ 1,80). O custo cambial anual é US$ 398 milhões no caso em que o custo de oportunidade do empréstimo é a redução do passivo externo do país. Os argumentos usados para se justificar estes custos não se sustentam. O argumento que o Brasil tem que pagar “pedágio para participar do G-20” é inqualificável enquanto que o argumento que o país tem benefícios com o aumento do poder de voto no FMI é equivocado. As mudanças no esquema de poder de voto no FMI são marginais e claramente não afetam a correlação de forças e a estrutura de dominação no sistema internacional. É pura ilusão imaginar que os incrementos marginais de poder de voto aumentem a influência do país no FMI[12]

 

7. Finanças públicas: desequilíbrios estruturais

Alguns analistas argumentam que depois de 2003 houve “reorganização das finanças públicas” (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2013, p. 14). A evidência empírica é contrária a este argumento. De fato, durante os governos petistas não é somente o país que está negativado, o governo também está. As contas do setor público mostram déficit nominal em todos os anos do período 2003-14. A taxa média (% do PIB) neste período é -2,7%, maior do que a média (-1,2%) e a mediana (-2,1%) mundiais (Tabela 8). Vale notar que os déficits públicos no mundo aumentaram significativamente a partir de 2008 em decorrência do uso das políticas fiscais expansionistas focadas na estabilização macroeconômica. A negatividade das contas públicas é evidente quando se constata que em oito anos o déficit público no Brasil é maior do que a média mundial e em seis anos é maior do que a mediana mundial.

 

Tabela 8
Contas públicas, resultado nominal e serviço da dívida pública governo geral, Brasil e Mundo (média simples e mediana), (% PIB): 2003-2014

Resultado nominal  Serviço da dívida pública
Brasil Posição do Brasil no rank mundial (ordem crescente) Brasil – Mundo (média simples) Brasil – Mundo (mediana) Brasil Posição do Brasil no rank mundial (ordem crescente) Brasil – Mundo (média simples) Brasil – Mundo (mediana)
2003 -5,2 37 -2,9 -2,7 -8,5 4 -6,1 -6,6
2004 -2,7 71 -1,3 -1,1 -6,6 7 -4,4 -5,0
2005 -3,4 40 -3,6 -2,0 -7,3 3 -5,3 -5,8
2006 -3,5 37 -5,3 -3,0 -6,8 4 -5,1 -5,4
2007 -2,6 43 -4,2 -2,4 -6,1 4 -4,5 -4,8
2008 -1,3 86 -1,7 -0,3 -5,4 4 -3,8 -4,3
2009 -3,0 116 0,9 1,1 -5,2 6 -3,5 -3,9
2010 -2,7 111 0,1 0,8 -5,2 5 -3,6 -3,8
2011 -2,6 99 -0,8 0,2 -5,7 4 -4,1 -4,2
2012 -2,1 120 0,0 0,8 -4,9 6 -3,2 -3,3
2013 -1,6 124 0,3 0,9 -4,8 7 -3,1 -3,2
2014 -2,0 100 -0,3 0,1 -5,1 7 -3,4 -3,5
Média 2003-14 -2,7 82 -1,6 -0,6 -6,0 5 -4,2 -4,5
 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor.
Notas: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. Serviço a dívida corresponde à diferença entre o resultado nominal e o resultado primário. Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. Há dados completos para 103 países. A posição do Brasil corresponde à ordenação da relação entre o serviço do pagamento da dívida pública bruta e o PIB para os países do painel, em ordem decrescente.

 

Em todos os anos dos governos petistas o país gera superávit primário (3,2% do PIB, média no período 2003-14). Entretanto, isto não é suficiente para compensar as elevadas despesas com o serviço da dívida pública (juros). Este fenômeno resulta, sem dúvida alguma, do fato de que a política macroeconômica dos governos petistas tem se caracterizado por taxas de juros reais extraordinariamente elevadas pelos padrões internacionais, seguindo o padrão de gestão macroeconômica do governo FHC (FILGUEIRAS, 2003; FILGUEIRAS e GONÇALVES, 2007, capítulo 3). O resultado é claro: durante os governos petistas o serviço da dívida pública representa, em média, 6,0% do PIB (Tabela 9). Este coeficiente é 3,3 vezes maior que a média mundial (-1,8%) e 4,1 vezes maior que a mediana mundial (-1,5%). Vale notar que, em todos os anos do período em questão, a relação pagamento de juros / PIB do Brasil é maior do que a média e a mediana mundiais desta relação.

O fraco desempenho da economia brasileira também é informado pela posição do Brasil no rank mundial segundo a relação entre o serviço do pagamento de juros da dívida pública bruta e o PIB, em ordem decrescente. A média e a mediana das posições do Brasil são iguais a 5. Considerando o painel do FMI (dados completos disponíveis para 103 países), constata-se que o Brasil está no grupo do “top” 5% dos países que mais pagam juros (em termos relativos) sobre a dívida pública. E, ademais, não houve mudança significativa desta posição ao longo do período em análise (7ª posição em 2004 e previsão desta mesma posição em 2013-14). Vale destacar que o fraco desempenho dos governos petistas na gestão macroeconômica é evidente quando se considera que a média anual do serviço da dívida pública é 6% do PIB, que corresponde a um terço da taxa média anual de investimento verificada no período em questão, como discutido na seção 3.

O país negativado aparece também no desequilíbrio de estoque relativo à dívida pública. Durante o governo petista houve queda da relação entre a dívida pública e o PIB (74,8% em 2003 e estimativa de 58,9% em 2014) (Tabela 9). Entretanto, a relação média de 66,0% é significativamente maior do que a média (55,6%) e a mediana (44,7%) dos países do painel do FMI. O fraco desempenho comparativo dos governos petistas na gestão das contas públicas é evidente quando se considera que em todos os 12 anos de governos petistas a razão dívida pública/PIB brasileira é maior do que a média e a mediana mundiais.

 

Tabela 9
Contas públicas, dívida pública bruta governo geral, Brasil e Mundo (média simples e mediana), (% PIB): 2003-2014

  Brasil Posição do Brasil no rank mundial  Mundo (média simples) Mundo (mediana) Brasil – Mundo (média simples) Brasil – Mundo (mediana)
2003 74,8 53 75,1 60,3 0,3 -14,5
2004 70,8 51 70,7 54,1 -0,1 -16,7
2005 69,2 53 64,7 50,0 -4,5 -19,2
2006 66,7 44 56,5 41,8 -10,1 -24,8
2007 65,2 40 49,9 38,0 -15,2 -27,2
2008 63,5 40 47,6 38,4 -16,0 -25,2
2009 66,9 37 50,5 41,6 -16,4 -25,3
2010 65,2 41 49,0 41,1 -16,2 -24,0
2011 64,9 46 49,5 41,9 -15,4 -23,0
2012 64,1 44 51,0 43,7 -13,1 -20,4
2013 61,2 48 51,4 43,3 -9,7 -17,9
2014 58,9 51 51,4 42,7 -7,5 -16,2
Média 2003-14 66,0 46 55,6 44,7 -10,3 -21,2
 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor.
Nota: Serviço a dívida corresponde à diferença entre o resultado nominal e o resultado primário. Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. Há dados completos para 163 países. A posição do Brasil corresponde à ordenação das relações dívida pública bruta/PIB dos países do painel em ordem decrescente.

 

O fraco desempenho da economia brasileira também é informado pela posição do Brasil no rank mundial segundo a relação entre a dívida pública bruta e o PIB, em ordem decrescente. A média e a mediana das posições do Brasil são 45 e 46, respectivamente. Considerando o painel do FMI (163 países), constata-se que o Brasil está no primeiro terço dos países mais endividados no período em questão. E, ademais, houve piora (ainda que pouco significativa) entre a posição do Brasil durante os governos petistas (53ª posição em 2003 e 51ª posição 2014).

 

8. Brasil negativado: empresas

Os dados do Banco Central são conclusivos: houve extraordinária expansão do crédito, principalmente, a partir de 2007. O valor total das operações de crédito das pessoas jurídicas aumentou 2,6 vezes, de R$ 233 bilhões em 2002 para R$ 594 bilhões em 2012 (valores constantes de 2012), o que representa crescimento médio anual de 9,8%, ou seja, quase o triplo do crescimento da renda real (Tabela 10).

O significativo endividamento do setor empresarial é evidente quando se verifica que a inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) cresceu 5,3 vezes (de R$ 7,8 bilhões em 2002 para R$ 41,2 bilhões em 2012, taxa de crescimento de 18,3% a.a.). De fato, a taxa de inadimplência das empresas mais do que duplica visto que aumenta de 3,4% em 2002 para 6,9% em 2012. Há tendência clara e forte de aumento desta taxa[13]

 

 

Tabela 10
Empresas – dívida e inadimplência: 2003-2012
(valores constantes de 2012, R$ bilhões; coeficientes em %)

  Dívida total Inadimplência Taxa de inadimplência Dívida, índice 2002 = 100) Inadimplência, índice 2002 = 100 Dívida PJ / EOB Ativos totais 50 maiores bancos / Ativos totais das 500 maiores empresas
2002 233,0 7,8 3,4 100 100 26,0 0,99
2003 215,3 6,5 3,0 92 83 22,2 1,05
2004 225,1 6,0 2,7 97 76 21,7 0,97
2005 244,2 6,3 2,6 105 80 22,8 1,09
2006 274,6 9,4 3,4 118 120 24,2 1,17
2007 320,2 12,2 3,8 137 156 26,5 1,35
2008 422,7 13,3 3,1 181 169 33,7 1,45
2009 461,9 25,8 5,6 198 330 36,0 1,75
2010 480,5 28,5 5,9 206 363 34,0 1,74
2011 534,1 34,9 6,5 229 446 36,7 1,78
2012 594,0 41,2 6,9 255 526 40,3
Fontes e notas: BACEN. Disponível aqui. Acesso: 30 de março de 2013. Elaboração do autor. GONÇALVES (2013.b). A taxa de inadimplência é a média dos atrasos acima de 90 dias sobre operações de crédito para pessoas jurídicas. Para o cálculo do valor constante (2012) o deflator usado é o IPCA. EOB é o excedente operacional bruto; ver IBGE, Contas Nacionais.

 

Durante os governos petistas as empresas tornam-se cada vez mais negativadas visto que a relação dívida das empresas / excedente operacional bruto aumenta de 26,0% em 2002 para 40,3% em 2012. Não é por outra razão que, considerando as elevadas taxas de juros cobrados no Brasil, há transferência de renda do excedente econômico do setor produtivo para o setor financeiro. Durante os governos petistas a relação entre os ativos totais dos 50 maiores bancos e os ativos totais das 500 maiores empresas aumenta continuamente de 0,97 em 2004 para 1,78 em 2011. Na realidade, trata-se, aqui, do fenômeno da dominação financeira que é marcante durante dos governos petistas (GONÇALVES, 2012.b; PAULANI e PATO, 2005).

 

9. Brasil negativado: famílias

Durante os governos petistas o processo de endividamento inclui não somente país, governo e empresas como também as famílias. Neste ponto se verifica uma das mais fortes expressões do legado negativo dos governos petistas, inclusive, com grande impacto social. De fato, a dívida das pessoas físicas aumentou de R$ 133,4 bilhões em 2002 para US$ 545,2 bilhões em 2012 (valores constantes de 2012). A dívida per capita (adultos), por seu turno, cresceu de R$ 1.026,00 em 2002 para R$ 3.457,00 em 2012; ou seja, 3,4 vezes (Tabela 11)[14]. O extraordinário aumento do endividamento é evidente: a razão dívida per capita / salário médio subiu de 5,1% em 2002 para 16,6% em 2012; e, neste mesmo período, a razão dívida total das pessoas físicas / renda total do trabalhador cresceu de 12,1% para 29,2%.

O resultado não poderia ser outro: aumento extraordinário da inadimplência. De fato, o valor total da inadimplência aumentou de R$ 8,5 bilhões em 2002 para R$ 33,9 bilhões em 2012; ou seja, quintuplica em 10 anos de governos petistas. A inadimplência per capita (adultos) aumenta 3,3 vezes. Neste ponto vale destacar que o salário médio real nas regiões metropolitanas aumenta somente 10% no período 2002-12.[15]

 

Tabela 11
Dívida das pessoas físicas (PF) – indicadores: 2002-2012
(valor em R$ bilhões, valor constante 2012; coeficientes em %)

Dívida PF Dívida per capita (R$) Dívida PF per capita / Salário médio  Dívida PF / Renda do trabalhador Atraso total, valor Inadimplência per capita (R$) Inadimplência per capita(índice 2002 = 100) Taxa de inadimplência
2002 133,4 1.026 5,1 12,1 8,5 65 100 6,4
2003 133,9 1.011 5,4 11,7 8,4 63  97 6,3
2004 152,3 1.128 6,2 12,9 7,9 58  89 5,2
2005 196,7 1.429 7,8 15,7 9,0 65 100 4,6
2006 245,8 1.751 9,3 18,1 13,7 98 149 5,6
2007 289,6 2.023 10,5 19,8 15,3 107 164 5,3
2008 329,7 2.259 11,4 20,9 17,7 121 186 5,4
2009 359,7 2.417 11,9 21,9 21,4 144 220 6,0
2010 420,9 2.775 13,5 23,5 19,0 125 192 4,5
2011 498,2 3.221 15,2 27,0 24,0 155 237 4,8
2012 545,2 3.457 16,6 29,2 33,9 215 329 6,2
Fontes e notas: BACEN. Disponível aqui. Acesso: 30 de março de 2013. Elaboração do autor.
GONÇALVES (2013.b). O deflator é o IPCA. O per capita refere-se à população adulta. EOB é o excedente operacional bruto (renda das empresas); ver IBGE, Contas Nacionais.

 

Se, por um lado é verdade que a taxa média de inadimplência manteve-se relativamente estável (5,5%) ao longo de 10 anos; por outro, é fato que há aumento extraordinário do valor total da inadimplência (quatro vezes no período 2002-2012) (Tabela 12). Os maiores aumentos de inadimplência são em operações de crédito pessoal (inclusive, crédito consignado) e aquisição de veículos.[16]

 

Tabela 12
Inadimplência de pessoas físicas: 2002-12
(R$ milhões, constante 2012) 

Cheque especial Crédito pessoal Aquisição de veículos Aquisição de outros bens Outras operações Total Valor total, índice 2002 = 100
2002 1.401 3.750 1.376 671 1.295 8.494 100
2003 1.161 3.454 1.498 904 1.392 8.409 99
2004 983 3.533 1.393 847 1.132 7.887 93
2005 956 4.473 1.201 1.131 1.241 9.002 106
2006 1.488 6.298 2.468 1.559 1.899 13.711 161
2007 1.733 6.549 3.045 1.810 2.164 15.301 180
2008 1.782 7.729 3.805 1.974 2.417 17.708 209
2009 2.306 9.602 5.043 1.605 2.887 21.444 253
2010 1.924 9.211 4.480 1.072 2.333 19.019 224
2011 1.933 11.412 6.559 1.218 2.885 24.007 283
2012 2.453 15.412 10.491 1.265 4.260 33.881 399
Fontes e notas: BACEN. Disponível aqui. Acesso: 30 de março de 2013. Elaboração do autor. GONÇALVES (2013.b).

 

No que se refere ao número de pessoas negativadas estimativas indicam que o número total aumenta 3 vezes, de 2,8 milhões em 2002 para 8,6 milhões em 2012 (Tabela 13)[17]. Portanto, temos aproximadamente 6 milhões a mais de pessoas negativadas. Este sério problema econômico-social é causado pelos seguintes fatores: oportunismo político-eleitoral (2009-10); política de grande expansão da oferta de crédito; taxas de juros absurdas; baixo crescimento do salário real; enormes necessidades da população; baixo nível de educação; inoperância fiscalizadora do Banco Central; e, práticas de abuso do poder econômico por parte dos bancos. O resultado é que o número de brasileiros que formam o “exército de negativados” ao longo dos governos petistas é maior do que a população de mais de uma centena de países[18].

 

Tabela 13
Inadimplência de pessoas físicas – Estimativa do número de pessoas (em mil): 2002-12

Cheque especial Crédito pessoal Aquisição de veículos Aquisição de outros bens Outras operações Total  Número de pessoas inadimplentes, índice 2002 = 100
2002 467 938 69 671 648 2.792 100
2003 387 864 75 904 696 2.925 105
2004 328 883 70 847 566 2.693  96
2005 319 1.118 60 1.131 620 3.248 116
2006 496 1.574 123 1.559 950 4.702 168
2007 578 1.637 152 1.810 1.082 5.259 188
2008 594 1.932 190 1.974 1.209 5.900 211
2009 769 2.400 252 1.605 1.444 6.470 232
2010 641 2.303 224 1.072 1.167 5.406 194
2011 644 2.853 328 1.218 1.442 6.486 232
2012 818 3.853 525 1.265 2.130 8.590 308
Fonte: BACEN. Elaboração do autor.
Notas: A estimativa do número de pessoas inadimplentes supõe algumas hipóteses sobre valores médios de endividamento; ver GONÇALVES (2013.b).

 

10. Síntese

Este artigo foca no desempenho da economia brasileira durante os governos petistas a partir de 2003. A evidência é conclusiva: fraco desempenho macroeconômico (investimento e renda); números negativos nas contas externas e nas contas públicas; e, crescente endividamento das empresas e das famílias. O fraco desempenho abarca o país, o governo, as empresas e as famílias. O desempenho dos governos petistas é fraco pelos padrões históricos brasileiros e pelos atuais padrões internacionais. Portanto, este artigo é forte contraponto a outros estudos que restringem a comparação do desempenho da economia brasileira durante os governos petistas com este desempenho no governo FHC. Ainda que este procedimento não seja incorreto, ele é insuficiente e enviesado visto que deixa de lado o padrão histórico e o padrão internacional. Estes dois referenciais metodológicos são usados amplamente neste artigo.

Nos governos petistas alguns analistas destacam “conquistas notáveis” como, por exemplo, o acúmulo de reservas. Entretanto, este acúmulo é resultado do excesso de liquidez internacional e da natureza da gestão macroeconômica e, conforme, demonstrado, há custos elevados para o país. O empréstimo do país ao FMI é puro desperdício de divisas. Deve-se destacar como legado dos governos petistas o extraordinário aumento, medido em milhões, de pessoas endividadas e inadimplentes. Não parece ser exagero considerar este grave problema como verdadeiro flagelo social que gera enorme perda de bem-estar na população mais carente e, inclusive, tornam ineficazes algumas políticas de expansão do consumo doméstico via desoneração fiscal e redução de taxas de juros.

Se, por um lado, é verdade que durante o governo FHC foi aplicado o Modelo Liberal Periférico; por outro, também é verdade que as características marcantes deste modelo persistem, se consolidam e até mesmo avançam nos governos petistas. Se, por um lado, é correto comparar o desempenho da economia brasileira no período dos governos petistas com o desempenho no período do governo FHC; por outro, também é correto reconhecer que esta comparação é insuficiente e enviesada na medida em que despreza o padrão histórico e o padrão internacional. Se, por um lado, é verdade que o desempenho da economia brasileira é melhor nos governos petistas do que no governo FHC; por outro, também é verdade que nos governos do PT a economia brasileira tem fraco desempenho pelos padrões históricos brasileiros. Finalmente, se por um lado, é correto afirmar que a conjuntura econômica mundial tem influenciado o desempenho da economia brasileira a partir de 2003; por outro, também é correto afirmar que a economia brasileira, nos governos do Partido dos Trabalhadores, tem fraco desempenho pelos atuais padrões internacionais. Estas são, precisamente, as principais hipóteses analisadas neste artigo.

 

Referências

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  1. O MLP se caracteriza pela ocorrência simultânea de três processos: (1) liberalização, desregulamentação e privatização; (2) vulnerabilidade externa estrutural; e (3) dominação financeira e dos setores do agronegócio, mineração e empreiteiras; ver FILGUEIRAS e GONÇALVES (2007), capítulo 3
  2. Os fundamentos políticos do MLP são analisados em Oliveira (2007).
  3. Os indicadores de “economic freedom” destas organizações combinam, na realidade, indicadores de liberalização econômica com indicadores de “clima de investimento” ou “clima de negócios”. Por exemplo, não é clara a relação entre o grau de livre interação entre oferta e demanda (acesso a mercado, liberalização) e corrupção ou carga tributária.
  4. O índice usado no Gráfico 1 a padronização do índice original: variável reduzida dos índices kaopen [(índice observado – índice mínimo / índice máximo – índices mínimo)] x 100. Quanto mais elevado o índice, maior é a abertura financeira. A base de dados de CHINN e ITO (2008) inclui 182 países. Disponível aqui.
  5. 6 Isto é evidente quando se considera, principalmente, as menores taxas de crescimento do PIB e de investimento, bem como o menor hiato de crescimento nos dois primeiros anos do governo Dilma comparativamente à média do governo Lula.
  6. Consideram-se as estimativas e projeções do FMI para os 2 últimos anos do governo Dilma.
  7. Para outros indicadores, ver GORDON e GRAMKOW (2011), CARCANHOLO (2010), FILGUEIRAS et al (2010) e PINTO (2011)
  8. Outras “conquistas notáveis” seriam a melhora na distribuição de renda e o surgimento de uma “nova” classe média. Estes temas não são tratados neste artigo, porém há inúmeros trabalhos que analisam e criticam estas hipóteses: BOSCHETTI et al (2010), CACCIAMALI (2011), DELGADO (2011), TEIXEIRA (2011), DEDECCA (2012), POCHMANN (2012), VIDAL (2012), UCHÔA e KERSTENETZKY (2012) e GONÇALVES (2013.a), capítulo 7. No que se refere a análises e comparações internacionais úteis sobre distribuição de renda, ver LÓPEZ-CALVA E LUSTIG (2010), OECD (2011) e UNCTAD (2012).
  9. FERNANDES (2013) conclui que as intervenções no mercado de câmbio no Brasil no período 1999-2012 foram determinadas por variáveis como prêmio de risco, desvios do real de sua tendência recente, comparação do desempenho do real com outras moedas semelhantes, volatilidade dos mercados e da própria taxa de câmbio. Este estudo restringe-se a exercícios econométricos e, portanto, negligencia aspectos relativos à Economia Política, ou seja, a relação entre poder e economia (política econômica).
  10.  No período 2009-11 a taxa média de retorno sobre o passivo externo brasileiro é 4,1% enquanto a taxa média de remuneração das reservas internacionais é 1,9%; GONÇALVES (2013.a), Tabela 6.1, pp. 139-140)
  11. No período 2009-11 o custo médio da dívida pública mobiliária federal interna é 11,8% enquanto a taxa média de remuneração das reservas é 1,9%; GONÇALVES (2013.a), Tabela 6.2, pp. 141-142).
  12. O aumento dos recursos do FMI transforma-se em instrumento poderoso de pressão sobre os países em crise para ajustes externos focados nos pagamentos ao sistema financeiro, nas políticas de arrocho fiscal que criam graves problemas econômicos e sociais, e na promoção de agendas que podem aumentar fragilidades e vulnerabilidades dos países em crise. Se a opção é pela solidariedade internacional o melhor instrumento é a compra de títulos públicos dos países em situações de crise; alternativa esta que, ademais, tem o benefício de retorno financeiro positivo para o país.
  13. Os sete tipos de operações de crédito para as quais o Banco Central informa dados sobre inadimplência são: operações com juros prefixados - conta garantida, operações com juros prefixados - desconto de duplicatas, operações com juros prefixados - capital de giro, operações com juros prefixados - aquisição de bens, operações com juros prefixados - vendor , operações com juros prefixados - hot money, e operações com juros prefixados - nota promissória. Dívida total das pessoas jurídicas é o saldo total das operações de crédito (média anual). Para o cálculo do valor constante (2012) o deflator usado é o IPCA. Inadimplência é a estimativa do valor total das operações de crédito para pessoas jurídicas com atraso de pagamento maior do que 90 dias. A estimativa do valor da inadimplência total é calculada aplicando a taxa média de inadimplência dos 7 tipos de operações sobre o valor total das operações de crédito (média anual) para pessoas jurídicas. Ver GONÇALVES (2013.b).
  14. Salário médio: rendimento médio nominal habitual principal, média das regiões metropolitanas. IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego. Renda do trabalhador é a soma dos salários e do rendimento misto bruto. Dados para 2009-2012 são estimativas que se baseiam na relação média constante entre estas remunerações e o PIB (média 2008-09 = 42,1%). IBGE, Contas Nacionais. Taxa de inadimplência: proporção percentual do valor das operações de crédito para pessoas físicas (PF) que têm atrasos superiores a 90 dias.
  15. Trata-se do rendimento médio real habitual - pessoas ocupadas - RMs - calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE/PME). O rendimento médio real efetivo - pessoas ocupadas - RMs – cresceu 11,2% em 2002-12.
  16. Crédito pessoal inclui crédito consignado. “Outras operações” incluem: financiamento imobiliário, cartão de crédito (rotativo e parcelado), adiantamento a depositantes, renegociação de dívidas, desconto de cheques e de recebíveis. Cartão de crédito (rotativo e parcelado) e financiamento imobiliário responderam por 60% e 30%, respectivamente, do valor total de “Outras operações” em 2012. Para este tipo aplicou-se a mesma taxa média de inadimplência dos 4 tipos de operações para os quais o Banco Central divulga dados.
  17. Naturalmente, há redundância nestas estimativas visto que a mesma pessoa pode estar inadimplente em diferentes tipos de operações de crédito. Não se pretende maior rigor com estas estimativas e, sim, destacar o aumento da gravidade do problema de endividamento das famílias durante os governos petistas. A convicção do autor é que os dados subestimam significativamente o número de pessoas efetivamente “negativadas”. Ver GONÇALVES (2013.b).
  18. No conjunto de 223 países da base de dados da UNCTAD, 113 países têm população inferior a 6 milhões em 2013. Disponível aqui. Acesso: 30 de abril de 2012.

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