Aprendizagem Espaçada

Anteriormente introduzimos a potenciação a longo prazo (LTP) como um mecanismo que torna as ligações entre as células cerebrais mais permanentes. A LTP é o processo de sintetizar ou criar proteínas nas sinapses (ligações entre células cerebrais) para as tornar mais permanentes. Anteriormente, muitos acreditavam que a formação de memória a longo prazo levava dias ou mais tempo a formar-se nos seres humanos. Contudo, pesquisas mais recentes sugerem que a LTP pode ser desencadeada num curto período de tempo através um padrão específico de ativação (Fields, 2005). O padrão verificado, muito semelhante a uma receita, foi de três ‘ativações’ separadas por dois intervalos de 10 minutos. “Novas investigações sobre a neurociência da aprendizagem identificaram agora como as memórias de longo prazo podem ser feitas em minutos e não em dias e para tópicos complexos, não apenas para associações básicas” (Ferguson et al., 2017).

Figure 22.1. Três ‘ativações’ separadas por dois descansos de 10 minutos.

O que aconteceria se tal padrão fosse aplicado num ambiente educativo formal? Kelley e Whatson (2013) aplicaram esta receita (chamada Spaced Learning) num estudo realizado com estudantes do ensino secundário (13-15 anos de idade), no Reino Unido. Os estudantes foram inscritos num curso nacional de biologia curricular e foram aleatoriamente distribuídos em três grupos (N = 1700+). O grupo A completou 4 meses de aulas regulares de biologia (23 horas de ensino direto). A sua última aula foi uma aula padrão de revisão de 1 hora. O grupo B completou uma única aula de 1 hora (1 hora de instrução direta). Todo o material para o curso (que seguiu o padrão de Aprendizagem Espaçada) foi condensado na aula única. O grupo C completou 4 meses de aulas regulares de biologia (23 horas de ensino direto). A sua lição final foi uma aula de revisão de 1 hora de Spaced Learning. Cinco dias após as sessões de revisão de cada grupo, todos os alunos fizeram um teste nacional padronizado de biologia. Quais foram os resultados do estudo? O grupo B teve os mesmos resultados do que o grupo A, apesar de ter menos 22 horas de instrução (recordemo-nos que o grupo B teve 1 dia de matéria condensada em vez de 4 meses de estudo repartidos por 23 horas de aulas). No entanto, o Grupo C teve o melhor desempenho de todos. A média da turma aumentou mais de 7 pontos, apenas com a modificação do desenho da aula de revisão (que seguiu um modelo de Spaced Learning e não uma aula de revisão clássica). Estes resultados são indicadores positivos para o impacto que a utilização de uma abordagem de aprendizagem espaçada, designadamente na primeira e/ou última aula, para melhor apoiar os alunos na formação da MLP.

Figure 22.2. Estudo: Aprendizagem Espaçada

Como poderia ser uma aula de Aprendizagem Espaçada? (1) O professor apresenta factos ou informações chave durante 20-30 minutos. (2) Os alunos têm um intervalo ativo de 10 minutos. (3) Os estudantes reveem e recordam os factos/informações chave anteriormente apresentados. (4) Os alunos têm um segundo intervalo ativo de 10 minutos. (5) Os estudantes relembram e aplicam os factos/informações chave. Para a abordagem ao trabalho, acredita-se que durante os intervalos de 10 minutos, as redes cerebrais previamente ativadas têm de estar inativas. Assim, em vez de terem uma pausa “livre”, os estudantes completam um tipo de atividade de distração. Algo completamente diferente que ocupa a sua mente, pelo que não podem voltar à aprendizagem anterior. Estas atividades poderiam ser, por exemplo, desenhar, fazer modelos a partir de gesso, dar um passeio na natureza, etc.

Vigilância e Aprendizagem

Ao aplicar a Aprendizagem Espaçada, podemos querer escolher uma atividade “divertida”. De acordo com a Lei Yerkes-Dodson ou curva em U invertida (ver Figura 1), se o nosso nível de excitação (ou seja, de alerta) for demasiado baixo, não podemos desempenhar (aprender) bem as tarefas desafiantes. Além disso, se o nosso nível de excitação for demasiado elevado (ou seja, se estivermos stressados) não podemos desempenhar (aprender) bem, a menos que a tarefa seja simples. A zona ideal está no meio (Sapolsky, 2015). No entanto, estar sentado durante muito tempo e ouvir, como muitos estudantes fazem nas salas de aula, diminui o seu nível de excitação. O movimento físico, a atividade social e um pouco de diversão funcionam para aumentar os níveis de excitação e podem mover os alunos para uma zona mais promotora da aprendizagem. Manter a Lei Yerkes-Dodson em mente pode tanto ajudar-nos a selecionar atividades para os intervalos de aprendizagem espaçada apropriados, como também aumentar a nossa consciência relativamente à importância que a vigilância (ou o alerta) desempenha na aprendizagem. A vigilância, relacionada com a manutenção da atenção, é “fortemente influenciada por fatores tais como fadiga, ansiedade e motivação” (Abernethy et al., 2007). Além disso, a nutrição (Zeng et al., 2011), a aptidão física (de Greef et al., 2018) e, criticamente, o sono (Wright et al., 2006) afetam as nossas capacidades de alcançar uma vigilância ótima e podem ser considerados ingredientes básicos de uma boa aprendizagem.

Figure 22.3 A Lei de Yerkes – Dodson (Fonte: Wikipedia).

Referências

Aprendizagem Espaçada
  • Kelley, P., & Whatson, T. (2013). Making long-term memories in minutes: a spaced learning pattern from memory research in education. Frontiers in human neuroscience, 7, 589.
  • Ferguson, R., Barzilai, S., Ben-Zvi, D., Chinn, C.A., Herodotou, C., Hod, Y., Kali, Y., Kukulska-Hulme, A., Kupermintz, H., McAndrew, P., Rienties, B., Sagy, O., Scanlon, E., Sharples, M., Weller, M., & Whitelock, D. (2017). Innovating Pedagogy 2017: Open University Innovation Report 6. Milton Keynes: The Open University, UK.
  • Fields, R. D. (2005). Making memories stick. Scientific American, 292(2), 74-81.
  • Sapolsky, R. M. (2015). Stress and the brain: individual variability and the inverted-U. Nature neuroscience, 18(10), 1344.
Vigilância e Aprendizagem
  • Abernethy, B., Maxwell, J. P., Masters, R. S., Van Der Kamp, J., & Jackson, R. C. (2007). Attentional processes in skill learning and expert performance. Handbook of Sport Psychology, 3, 245-263.
  • Zeng, Y. C., Li, S. M., Xiong, G. L., Su, H. M., & Wan, J. C. (2011). Influences of protein to energy ratios in breakfast on mood, alertness and attention in the healthy undergraduate students. Health, 3(06), 383.
  • de Greeff, J. W., Bosker, R. J., Oosterlaan, J., Visscher, C., & Hartman, E. (2018). Effects of physical activity on executive functions, attention and academic performance in preadolescent children: a meta-analysis. Journal of science and medicine in sport, 21(5), 501-507.
  • Wright Jr, K. P., Hull, J. T., Hughes, R. J., Ronda, J. M., & Czeisler, C. A. (2006). Sleep and wakefulness out of phase with internal biological time impairs learning in humans. Journal of Cognitive Neuroscience, 18(4), 508-521.
Additional reading on rapid long-term memory formation
  • Pastötter, B., & Bäuml, K. H. T. (2014). Retrieval practice enhances new learning: the forward effect of testing. Frontiers in Psychology, 5, 286.
  • Antony, J. W., Ferreira, C. S., Norman, K. A., & Wimber, M. (2017). Retrieval as a fast route to memory consolidation. Trends in cognitive sciences, 21(8), 573-576.

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