A engenheira e escritora Maurem Kayna estreia sua coluna no Guia da Autopublicação, sobre o universo dos livros e experiências de autopublicação, analisando aspectos importantes envolvidos nos custos de uma publicação bancada pelo autor.

Maurem Kayna

Tempos atrás publiquei uma adaptação, para nossas condições locais, de um post de Kelsye Nelson para o BookPromotion.com sobre os custos de uma publicação bancada pelo autor. Achei que revisar e atualizar esse tema, seria uma boa forma de estrear nesse espaço dedicado ao tema Autopublicação.

Como em qualquer mercado editorial, também no Brasil, os escritores que decidem viabilizar suas publicações, se deparam com diferentes opções e custos que variam enormemente.

O que quero abordar aqui são os motivos dessas variações tão significativas.

A matéria original que inspirou minha análise era concentrada na questão das publicações em papel, mas resolvi acrescentar aqui, a alternativa do e-book, quando cabível.

Um dos fatores que vai determinar o volume de recursos a ser investido na empreitada da publicação independente é o quanto o autor vai assumir das etapas inerentes ao processo de publicação.

A seguir analisarei cada opção, tentando ponderar prós e contras.

Independência Total x Apenas criar

Entre as escolhas extremas – a de fazer tudo sozinh@ ou simplesmente criar e deixar as demais etapas com os profissionais adequados – existem muitas possibilidades intermediárias.

Um dos fatores que vai determinar o volume de recursos a ser investido na empreitada da publicação independente é o quanto o autor vai assumir das etapas inerentes ao processo de publicação.

No caso de e-books, existe a possibilidade de assumir tudo mesmo, inclusive o processo de venda.

Já para o formato impresso, a menos que o autor possua uma gráfica ou pretenda montar livros artesanalmente, no mínimo a etapa de impressão terá de ser terceirizada.

Isso significa que, entre a criação e a venda, é tudo com você: revisão, leitura crítica, copidesk, capa, marketing e gerenciamento de vendas.

Vantagens da independência total

  • Custo supostamente zero. Digo “supostamente” porque se você calcular o valor do tempo necessário para executar com um mínimo de qualidade cada uma dessas etapas, talvez chegue à conclusão que está deixando de faturar (se tiver o seu próprio negócio em outro ramo) ou que não há horas suficientes no dia para manter o emprego e esse investimento.
  • Controle (e responsabilidade) total pelo resultado.
  • Se você vender diretamente ao leitor (através do seu próprio site) fica com 100% do valor de venda dos livros

Desvantagens de fazer tudo sozinh@

  • Se você mesmo revisar seu livro, há grandes chances de que equívocos de grafia ou gramática lhe escapem.
  • A menos que você tenha um perfil muito muito crítico, dificilmente a leitura crítica da obra feita por você mesmo ajudará realmente a melhorar o resultado final.
  • Se você mesmo produzir sua capa (a menos que tenha grandes habilidades nisso) há sempre o risco de um resultado insatisfatório que certamente impactará nas chances de venda do livro.
  • Se você não tem uma boa rede de contatos, a distribuição, divulgação e venda dos seus livros enfrentará obstáculos intransponíveis (não é exagero, é fato).

No fim das contas, é importante saber que nenhuma das escolhas (nenhuma mesmo!) é garantia de sucesso, pois o mercado tem razões que não se pode chamar exatamente de previsíveis.

Nunca é demais insistir que esperar sucesso, seja como autor independente ou via editoras tradicionais, é uma tolice sem tamanho. É estatisticamente improvável que um escritor desconhecido venha a ter seu nome citado nos círculos que lhe interessam (esses também variam, pois há quem queira estar na lista dos mais vendidos, há os que prefeririam um prêmio literário e outros que se satisfariam com o carinho de determinado público de leitores), mas ainda assim, quase todo novo autor em algum momento se acredita digno do Pulitzer ou ao menos do Jabuti e de figurar na lista dos mais vendidos da Veja. Alguns poucos conseguirão.

Mas voltemos ao post que me inspirou.

Segundo Kelsye Nelson, autores independentes gastariam em média R$ 4,5 mil para concretizar o sonho de um livro impresso com seu nome na capa no mercado norte americano, mas ela cita uma publicação de Guy Kawasaki que afirma que esse investimento chegaria a aproximadamente R$ 8 mil.

Não tenho levantamentos reais aqui do Brasil, mas consultando sites de “editoras” que trabalham com impressão sob demanda (POD, ou Print on demand) e oferecem serviços editoriais a autores independentes, arrisco sustentar que os valores por aqui ficam bem abaixo disso, ao menos na grande maioria dos casos.

Mas a probabilidade de investir e acabar com a garagem entulhada de exemplares que acabam sendo doados a amigos e conhecidos parece ser a mesma, pois o caminho até a prateleira das livrarias não é livre de obstáculos para pessoas físicas.

E, quando esses obstáculos são vencidos, é preciso entender a importância do marketing para que, depois do livro ser entregue às livrarias, os leitores tomem conhecimento de sua existência.

O mesmo vale para e-books, com a diferença de não ocuparem espaço físico na sua casa.

O rápido tour pelos principais serviços para autores que fiz me permite diferenciá-los em dois grandes grupos – os baseados em POD, ou seja, um livro físico só será impresso efetivamente se houver uma compra / encomenda; e os pacotes que preveem uma tiragem mínima variável.

Cada opção tem, como tudo no mundo, vantagens e inconvenientes. Cada escritor precisa ponderar o que se ajusta melhor aos seus propósitos. Então, seguem-se algumas reflexões que poderão ajudar ou ao menos fomentar alguma discussão.

Qual é o serviço editorial mais relevante na autopublicação?

Se o orçamento é limitado e o autor precisa decidir no quê aplicar a grana que tem disponível, há que se pensar com cautela e lucidez.

A regra geral é que se todas as etapas forem feitas de modo profissional o resultado será melhor e as chances de atingir maior público também, mas não se iluda (insisto!), pois ninguém pode lhe oferecer garantias.

Lembremos que nem o  F. Scott Fitzgerald  teve a alegria de ser aclamado por crítica e público e ele já não estava entre os respirantes quando O Grande Gatsby (The Great Gatsby) passou a ser considerado uma grande obra.

O contrário também ocorre, muitos best-sellers ficam a léguas de distância do que se pode chamar uma obra literária, mas seus autores ganham dinheiro e possivelmente estejam satisfeitos – e não há problema nenhum nisso, penso eu.

Falo isso porque penso que ter expectativas realistas e honestidade de propósito (você quer criar uma obra para entrar para a história ou acertar nos elementos que lhe permitirão entrar para a lista dos mais vendidos?) ajuda no planejamento e na tomada de decisões que poderão prevenir frustrações.

Revisão

Em relação às revisões ortográfica e gramatical, minha dica é: pague.

Mesmo que seja um professor de língua portuguesa dos bons, ao revisar seu próprio texto o risco de deixar passar alguma coisa é grande.

E se você não tem um domínio tão grande do idioma a relevância desse aspecto cresce.

O custo da revisão varia bastante (de R$1,50 a R$ 5,00 por página) e vale negociar com o revisor e conhecer a qualidade do seu trabalho, bem como combinar bem os prazos antes de encaminhar seu original.

Afinal, quando alguém decide gastar dinheiro deve ter um cronograma e um plano claro, não é!?

E notem que me referi aqui somente à revisão ortográfica e gramatical, mas uma revisão do conteúdo, com olhos para questões como verossimilhança e consistência é importante, especialmente (mas não só) em textos mais longos.

A preparação de originais também é coisa muito relevante.

Capa

Sim, mesmo os leitores mais convictos da paixão pelo texto em si já compraram algum livro pela capa. Especialmente se o título não é conhecido e não foi comentado por nenhum formador de opinião ou amigo leitor de confiança.

Ter uma boa capa faz diferença.

Mas uma capa personalizada, feita por um capista profissional não custará barato.

Então, se você não tem um amigo de infância que é capista e estaria disposto a lhe oferecer uma criação como presente de natal, procure ao menos não cometer os erros mais grosseiros em termos de capa (uma imagem sem qualquer relação com o conteúdo, por exemplo) e pense, se pretende ter vendas online, em como ela será visível e compreensível numa imagem muito pequena como costumam ser exibidas nas prateleiras virtuais.

Deixo aqui uma dica de leitura para quem quer saber mais sobre a relevância das capas em um livro.

Diagramação

Um projeto editorial personalizado valoriza um livro, mas isso realmente custa caro.

Alguns aspectos são fundamentais, porém.

E aqui falarei apenas como leitora – o tamanho da fonte, o espaçamento entre as linhas e o alinhamento do texto contribuem para uma melhor experiência de leitura. Margens amplas também são preferíveis às estreitas, mas isso significa maior número de páginas a imprimir.

Você decide o que quer oferecer ao leitor, e ele, se estará disposto a aceitar.

Mas creio que nem todo leitor é chato como eu. Para muitos talvez essa parte estética não seja relevante.

Mas vale deixar a dica de que é possível trabalhar com cuidado num editor de texto e usar, por exemplo, ferramentas de conversão para e-books ou geradores PDF.

Caso o foco principal seja e-book, também há editores gratuitos de ePub como o SIGIL, que permitirão gerar um arquivo mais adequado para o uso em diferentes aparelhos de leitura.

Impressão

Esse é o item em você provavelmente gastará a maior parte dos seus recursos a menos que planeje investir em divulgação.

O custo por  unidade cai quando a tiragem cresce, ou seja, se você imprimir 500 exemplares de um livro com aproximadamente 100 páginas, ele terá o custo de aproximadamente R$4.50, mas se dobrar a tiragem esse custo unitário pode cair para R$3,2 ou R$3,6.

Se você optar por impressão sob demanda, não precisa imprimir nenhum exemplar antes que algum leitor queira comprá-lo, mas o custo unitário será elevado (pode ficar acima de R$20,00), o que provavelmente não vai ajudar a vender.

A escolha vai depender do espaço para armazenar e da disposição para distribuir os volumes.

Essa é uma vantagem do e-book, não requer espaço físico para ser armazenado e mesmo que poucas unidades sejam comercializadas, não será preciso se preocupar com poeira.

Distribuição

Nem todos os escritores sabem que boa parte das livrarias só compra de distribuidoras.

Diversas tem suas aquisições centralizadas, por exemplo, em São Paulo.

Então, se você pretende ter seu livro à venda numa livraria que costuma frequentar, trate de se informar se eles compram direto de autores ou se a editora que está produzindo o seu livro faz também a distribuição ou vai simplesmente lhe entregar as caixas com os volumes impressos.

Marketing

O escritor pode bem tentar se virar com sua própria lista de contatos e redes sociais, mas precisa ter cuidado para não ser bloqueado por excesso de insistência.

Também não é muito realista imaginar que um e-mail ou post na timeline dizendo que seu próprio livro é fantástico serão argumentos suficientes para que seus amigos  e conhecidos o comprem.

Em primeiro lugar, talvez os seus contatos não sejam exatamente o seu público alvo.

Segundo, mesmo que o sujeito tenha 500 “amigos”ou seguidores numa rede social, tenha em mente que o algoritimo que determina a exposição do seu conteúdo na timeline alheia fará com que apenas um pequeno percentual dos seus contatos visualize o que você divulgou.

Assessoria de imprensa não faz milagre, mas pode ajudar muitíssimo na divulgação.

Qualquer produto que se queira vender (sim, um livro é um produto, gostem ou não aqueles que amam a arte da literatura) precisa lançar mão de ferramentas de marketing e isso inclui pensar uma campanha para a divulgação.

Uma estratégia onde website, redes sociais, mídia impressa e brindes podem ser importantes.

Um simples marcador de página ou um folder de divulgação poderá cativar um percentual daqueles que o recebam (R$ 200,00 permitem imprimir algumas centenas de marcadores ou cartões com boa qualidade visual, mas será preciso ter uma boa arte pronta).

Afinal, quanto custa a publicação de um livro?

Em termos bem objetivos, o escritor pode gastar de R$500,00 (num modelo POD) até vários mil reais (R$ 12 mil foi a referência mais cara que encontrei na web para um pacote de publicação que inclui divulgação e assessoria de impressa para o autor) para realizar seu intento.

Talvez você esteja com a sensação de que escrevi, escrevi e escrevi e não facilitei a sua tomada de decisão quanto às melhores opções de serviços para o escritor independente. Não vou discordar.

O objetivo não é facilitar sua vida, apenas jogar em seu colo todos os aspectos sobre os quais deverá pensar antes de se aventurar, encurtando levemente seu caminho ao apresentar alguns dados concretos que o situem no espaço e nas cifras.

Mas copio aqui uma das frases do post original porque concordei com ele em gênero, número e grau:

“Se você não investe nada no seu livro, não espere que os leitores fiquem muito impressionados ou se sintam compelidos a comprá-lo […] Ainda que você crie um belo produto, maravilhosamente bem escrito, com apresentação profissional, se ninguém ouvir falar dele, seu livro permanecerá intocado, acumulando poeira na prateleira”.

A mensagem geral é que, mesmo para quem decidir realizar apenas uma publicação em formato e-book, se quiser fazê-la com qualidade, isso custa dinheiro (seu tempo para executar as etapas necessárias também pode ser considerado em termos financeiros).

A  boa notícia é que, sabendo quais as etapas imprescindíveis e se planejando adequadamente, é possível identificar fornecedores em separado, cujos custos podem ser mais acessíveis, assim como a forma de pagamento pode ser negociada.

Ou você pode investir tempo e aprender a executar com maestria cada uma das etapas, mas, sinceramente, acho pouco provável que um escritor comum como eu e você possa dar conta de tantos aspectos com a qualidade necessária para conquistar um público leitor altamente disputado.

A dica? Identifique parceiros e tenha um plano (com cronograma, de preferência) realista, sem esquecer que escrever também (e principalmente) consome tempo.

Eu mesma tenho procurado informações por todo lado e cada vez mais me convenço que preciso concentrar meus esforços em ler e escrever e saber a quem recorrer para executar o restante.

Opções para aprender há muitas, desde mergulhar no “oráculo” procurando as palavras chaves certas, até oficinas específicas que tratam do tema.

Mas essa é uma escolha pessoal, assim como da companhia aérea, não!?

 


Para saber mais

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Revista do Guia da Autopublicação Copyright © 2014 by Maurem Kayna is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License, except where otherwise noted.

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